A MARCHA DOS INSENSATOS
Muito se tem
falado e escrito sobre as manifestações populares ocorridas nos últimos dias. Embora
ninguém tenha pedido minha opinião, resolvi deixar nesta página algumas
impressões, inúteis por sinal, mas não menos inútil do que o objeto de minha
preocupação. Para ser exato e justo, um irmão me ligou perguntando o que penso
destas e doutras coisas. Perguntou por perguntar, pois como sempre lhe ocorre,
ouviu-me para discordar logo em seguida. De modo que tudo permaneceu no mesmo formato
e tamanho, nada mudando para ele nem para mim. Entretanto, sendo eu ignorante
neste e noutros assuntos, e ele bem informado em tudo, esperava-se o contrário:
nesta e na próxima crise, eu deveria lhe pedir opiniões - sempre sábias e
verdadeiras.
As “insanas
turbas” que ora ocupam ruas, praças e vias fizeram-me lembrar de outras
manifestações, mas no campo da ficção. Menotti del Picchia, em seu
inesquecível romance “A desintegração
da morte”, fez referências a um povo em marcha denominado por ele, se não me
falha a memória, de “multidões ululantes”. Diferentemente das multidões de
agora, lá na ficção aquela gente sabia por que ululava.
Sociólogos,
antropólogos e toda a casta de cientistas sociais se debruçam sobre o assunto
do momento. Alguns chegam mesmo a vislumbrar uma revolução em curso. Mas que
revolução está caminho? A dos conservadores? Os números de importante instituto
de pesquisa apontam as classes alta e média alta como grandes incentivadoras
dessa tormenta; e conservadores não promovem revolução, mas golpe. Fico
pensando: “Será que essa gente rica está preocupada com quem anda de ônibus ou
é usuário do SUS?” Claro que não, e os seus interesses são outros. A julgar
pelo espaço concedido pela grande mídia aos principais desafetos de dona Dilma,
percebe-se que há muita fumaça em sua cozinha, e o seu fogão é que está em
jogo.
Observemos
os últimos movimentos do governo paulista. Toda aquela cúpula conseguiu da
Assembleia Legislativa, por votação unânime, 10,3% de aumento nos seus salários.
E tudo aconteceu durante a tenebrosa tempestade nas ruas. Por que não
protestaram contra isso? Mas não há interesse em atacar os tucanos paulistas.
Prova disso é que recentemente a TV Cultura entrevistou, no programa Roda Viva,
Roberto Freire - caudilho dos ex-comunistas e que faz odiosa campanha contra o
Planalto; no meio da crise veio José Serra, que dispensa comentários; e, para completar
a tríade, tentaram FHC. Só não conseguiram este, pois houve chiadeira dos
conselheiros da Fundação Padre Anchieta.
Você tem dúvidas de que esteja em curso um movimento fascista com o intuito
de desestabilizar Dilma? Eu não tenho. Afora os voluntariosos estudantes e
aquela “gente diferenciada” que lutam por uma sociedade mais justa, há no bojo
desse movimento toda uma engenharia demo-tucana com a incumbência de pôr a pique o
governo vigente.
Você
ainda vai à passeata? Estará em boa companhia de Veja, Globo, Folha, Estadão, demo,
tucanalha et caterva. Faça bom proveito!
FILIPE