Por tempos não o via. Ao
encontrá-lo, quis falar sobre tudo, conforme nosso velho costume: religião,
família, música, o tempo etc. Uma conversa de sempre, amena, com os semblantes
serenos. Mas, desta vez, o assunto
começou com ‘política’, e adeus serenidade! De cenho franzido, ele foi logo
dizendo: “Não entendi, não pode ser. O que você vê na Dilma para defendê-la
assim tão radicalmente?” Eu queria responder, mas ele não permitiu que o
interrompesse. Quis continuar, completar seu arrazoado. “Aqui, eu não vejo
jornal na Globo. Assisto ao jornal da Bandeirantes e lá há pessoas sérias, mas
só apontam sujeiras. O que esse PT faz e o que essa Dilma tem feito... Até onde vai esse trem, sô? Eu queria que
você fosse sensato e não ficasse assim, defendendo essa gente.” “Mas, a mídia
domina tudo!...” Tentei, mas fui interrompido e resignei-me a ouvir o amigo
indignado. “E tem mais. Você, eu me lembro, sempre defendeu o MST, que só
invade e destrói. O que esse pessoal fez de bom até agora? Nada! Olha, eu gosto
do seu blog, gosto de ler suas crônicas, mas quando você se mete a escrever
sobre política..., dá vontade de nem abrir mais, deixar pra lá.” Aproveitei uma
brecha e arrisquei: “Quando escrevo, acho que eu não deveria pensar assim, levo
em conta o leitor. Quero que ele continue acessando.” “Ah, meu caro, você pode até pensar nos
outros, mas em mim você não pensa. Senão, não ia ficar escrevendo bobagens,
uai! Me desculpe. Às vezes tenho até vontade de postar um comentário, mandar um
e-mail, mas penso: ‘vou ofender meu amigo’. Então, deixo pra lá.”
Esse pequeno diálogo com o
amigo-leitor foi emblemático, pois ficou subentendido que eu devesse ser mais
sutil. Que eu não fosse assim tão explícito na defesa de alguém que, no seu ponto de vista, não faz jus
a tal deferência. Na oportunidade que me surgiu disse a ele que, embora eu
tivesse lido e gostado da biografia da Dilma, não sou tão devoto dela.
Confessei minha dificuldade para votar nos primeiros turnos, o que não ocorreu
nos segundos. Em sua reeleição, por exemplo, não havia escolha, pois quem
estava no páreo era um cafajeste – um Collor redivivo. Disse-lhe também que
entendo suas críticas e lamento os dissabores de outros leitores que, sendo
poucos, tendem a desaparecer. Mas...
Dias desses, paguei 70 “pilhas” a
um “barnabé” com diploma de doutor para dar uma carimbada nuns documentos. O
cara, que não fez outra coisa além do descrito, tentou puxar conversa para...
Falar mal da Dilma! Talvez tentasse ser simpático, querendo justificar o honorário
ganho em dois ou três minutos de trampo. Disse ele que uma ‘ditadurazinha
militar’ não faria mal ao país. O cara é grisalho, já viveu, estudou e vem com
esse papo... Apenas afirmei que não há ‘ditadura sem tortura’, ao que me
respondeu: “Não, tem que ser uma ditadura moderna!”
Doutra feita, outro doutor, para
justificar os 300 “pixulecos” de uma consulta, mediu minha pressão, perguntou
sobre minha labuta e, na falta de assunto, arrematou: “Não tem jeito com esse
país não. Enquanto esse PT estiver lá, vai ser esse caos!” Caos para quem? Para
ele com seus milhões e passando férias na Europa?...
A última. Numa tarde de sábado,
passando por um salão com a tevê sintonizada na Globo (aliás, aonde quer que eu
vá, só dá Globo. Que saco!), vi aquele ‘Luciano Huck’ – que não conheço, mas
sei que tem praia particular (proibida por lei) – anunciando um “0500” para
“melhorar o Brasil”. Segundo o solerte apresentador, neste país há muita
miséria, injustiça social etc. Mas para acabar com isso é preciso ligar para o
‘0500’, pois somente assim a coisa melhora.
Finalizando, seria bom sabermos que
as grandes mídias são patrocinadas pelos grandes bancos, que financiam as
grandes campanhas eleitorais. E que a família Setúbal, dona do Itaú e que tem como
hobby bater panela na Paulista, deve R$ 19 bilhões ao Fisco (ver “Golpe de Estado”,
de Palmério Dória e Milton Severiano, p.19 – Geração Editorial).
Uma pergunta. Quantos banqueiros
foram presos pela Lava-Jato até o momento? Não, amigo, eu não me engano e continuarei no
“front”. Escreverei quixotescamente sobre tudo o que me aflige, pois este é meu
último respiro.
FILIPE