Ao final de cada ano letivo tenho
o mau costume de pedir aos alunos que avaliem meu trabalho. Pego uma folha
sulfite e a divido em oito partes iguais, dando um pedaço de papel a cada
aluno. Num lado, peço que escreva sobre este professor; no outro, sobre o
próprio aluno. Sugiro que fiquem à vontade para espinafrar o professor, e que o
façam anonimamente. Obedientes, pelo menos nesse momento, os alunos não perdem
tempo. Após isso, peço a um deles que recolha os papeizinhos, que separo por
classe de forma que eu fique sabendo o que pensa de mim determinada turma, mas
não o aluno.
Para mim não é tarefa das mais
prazerosas ler as impressões de meus alunos sobre meu trabalho, porque alguns
deles, inclementes, dão-me impiedosas flechadas. Já aconteceu de tudo. Houve um
tempo em que eu usava chicletes para mitigar minha ansiedade. E na avaliação,
um deles escreveu: “Parece uma vaca velha mascando!” Velho, embora, já não me
chamam mais de ‘vaca velha’, porque parei de usar chicletes. Também já criticaram
minha letra, meu modo de falar etc., sem, contudo, me deixar aborrecido, porque
essas observações são verdadeiras.
Neste ano, contudo, fiquei
bastante chocado. Não havendo mais provas para corrigir nem lançamentos a serem
efetuados, peguei os tais papeizinhos e fui para uma sala vazia. Separados os
montinhos, comecei a lê-los, reservando para o final uma classe com a qual eu
me dava bem. “Pelo menos eu sairei daqui animado”, pensei.
As críticas e eventuais elogios
obedecem um padrão, não diferindo muito uma turma de outra. Ainda assim foi
possível notar certa empatia de determinada classe contraposta ao desconforto
de outra.
Finalmente, abri o último bloco.
Devo ter ficado ruborizado ao ler o primeiro bilhete; o segundo também; o
terceiro, o quarto... Por fim, fui me acostumando com o malho a que voluntariamente
me submeti. Muitos desses alunos disseram que sou parcial no trato, preferindo
a uns em detrimento de outros. Pior: que prefiro os mais inteligentes e
desprezo os que têm dificuldade. Mentira!
Tenho o péssimo defeito de dar
atenção apenas às pessoas com as quais me identifico e não costumo me aproximar
daquelas cujas ideias não me agradam, e isso é fato. De algumas pessoas,
confesso envergonhado, tenho uma quase repulsa. Mas confesso, agora sem estar
envergonhado, que tenho lutado contra esse comportamento. Mas é difícil mudar
isso. Ô luta inglória!
Também não me perturba a crítica
quando a considero justa. Podem me tachar de feio, burro, ignorante, medíocre
etc. Mas dizer que sou “puxa-saco dos inteligentes”!?... Não posso aceitar isso
passivamente. Nunca bajulei gente inteligente, poderosa, influente, rica
etc. Isso nunca!
Portanto, deixo aqui este
protesto, não pela necessidade de protestar, mas pela necessidade de cumprir
minha agenda, atualizando este blog.
Desculpa qualquer coisa, raríssimo
leitor!
FILIPE