Ao som de “Música Antiga”, um
belíssimo programa produzido pela Rádio MEC que o ‘coiso’ pretende fechar,
deixo o jornal e começo a dedilhar o teclado do notebook em busca de algo para
a postagem de hoje. Na Folha de S. Paulo, uma matéria sob um bem-sucedido
programa de alfabetização de adultos me chamou a atenção. Há 45 anos o Colégio
Santa Cruz, um dos mais tradicionais do país, oferece gratuitamente aulas,
transporte e lanches a um público carente e cada vez mais crescente. Por outro
lado, nas escolas oficiais, que são mantidas pelo Estado, o antigo supletivo
está deixando de existir por falta de alunos.
Noutro recorte de jornal, este do
início da semana, uma notícia trágica: “Professor é esfaqueado por aluno dentro
de escola na Grande São Paulo”. Lendo a matéria, soube que o professor dá aulas
de geografia, tem 55 anos e estaria em estado grave num hospital da região. O
algoz é um rapaz de 14 anos, seu aluno. Segundo a reportagem, o professor é
querido, apesar de rígido; o agressor, por sua vez, é tido por estudioso,
bem-comportado, um “bom moço”! Fiquei sem entender como um jovem “tão bom” pudesse
ser assim tão covarde, tão atroz. Ah, o agressor feriu-se também, talvez
querendo ‘empatar o jogo’, mas sem gravidade. Parece que a fúria maior seria
contra o professor, porque ele apenas se arranhou com a lâmina.
Eu me vi “na pele” daquele professor.
Um homem já esfolado pela vida e pelos anos, tentando realizar um trabalho cada
vez mais penoso. A maioria de nossos jovens não se interessa por leitura nem
pela escrita, nem por nada que não seja troca de mensagens nas redes sociais ou
joguinhos eletrônicos. Mas há coisas muito tenebrosas nessas mídias que ocupam
mente e espírito juvenis, e muito mais nocivas do que os inocentes jogos. Melhor
não saber.
No Brasil, onde 11 milhões de pessoas
com idade de 15 anos ou mais não conseguem ler sequer um bilhete simples,
segundo reportagem da Folha, professores são ameaçados, agredidos e até
esfaqueados pelos seus próprios alunos. Muito triste!
Acabou o programa da Rádio MEC e
acho que a Rádio MEC também acabou. Sem “Música Antiga”, perdi a inspiração e
encerro o texto por aqui. Sorte do eventual leitor, porque eu estaria disposto
a destilar um balde fel nas linhas seguintes. Eu seria lamurioso, chato, muito
além do habitual. Então vou nos poupando dessa neura.
FILIPE