“Nas minhas andanças pelo interior de São Paulo, correndo atrás de
contratos para poder lecionar, acabei indo para a cidade de Amparo. Na escola
em que fui trabalhar, conheci muitas pessoas que, em sua maioria, trataram bem 'o rapaz de Minas'. Pois bem, vou falar um pouco sobre um professor de
Matemática – homem sábio, que usava roupas simples e já meio “surradas”, um
chapéu na cabeça e o jornal enrolado nas mãos – e era justamente o jornal que
lia nas horas vagas a grande fonte de inspiração para as sábias reflexões
proferidas durante os diálogos nos intervalos.
Para trabalhar, eu me deslocava diariamente, de segunda a sexta, entre
as cidades de Monte Sião (MG) e Amparo (SP), fato que chamou a atenção do professor.
Dessa forma, especialmente às sextas-feiras, íamos nós caminhando após a
exaustiva e turbulenta semana de trabalho (situação bem conhecida de quem
atualmente está em sala de aula no Brasil), rumo aos nossos respectivos
destinos: eu à rodoviária e o professor para sua casa, sendo que, não raras
vezes, eu passava em sua residência para tomar um café com sua família. O
caminho proporcionou a construção de uma grande amizade, amizade fundamentada
na lealdade e na oração. Foram muitas as vezes que, ao passarmos diante da Igreja
de Nossa Senhora do Rosário, fazíamos a oração do Ângelus, na qual rezávamos as
Três Ave-Marias e, no final, uma pequena oração pedindo descanso aos mortos.
Esse amigo nos presenteava a cada quinze dias com uma reflexão no seu
Blog. Os assuntos eram variados: desde histórias de seus conterrâneos em Minas
até críticas construtivas a respeito das atividades pastorais realizadas pela
Igreja (pois sempre foi um bom católico), passando obviamente pelos textos
políticos. O amigo, talvez não compreendido pela maioria das pessoas, é repleto
de ideais e não de interesses particulares.
Algumas pessoas conseguem nos humanizar, fazendo-nos enxergar o mundo e
os semelhantes com um olhar fraterno e generoso – não apenas com suas palavras,
mas principalmente com suas ações.
Obrigado, professor.”
O texto acima foi publicado num ‘blog literário’ por Renato
Pires de Godoy, uma das pessoas mais formidáveis que já conheci e de quem tenho
o privilégio de ser amigo.
FILIPE