sexta-feira, 14 de agosto de 2020

CABEÇA FRACA

Não posso dizer que tenho inveja de alguém, mas às vezes a minha admiração pelo talento de alguns beira a esse sentimento. Aliás, ainda quero falar sobre ‘inveja’ aqui, porque esse ‘pecado capital’ é um tema que deve me render boas linhas. Mas hoje quero falar de uma habilidade que muito admiro em certas pessoas: a memória.

 

Recentemente, no grupo de WhatsApp da família, um irmão, certamente querendo fazer graça, aventou a possibilidade de que esteja fadado a sofrer do Mal de Alzheimer. Dias desses, segundo disse, entrou no carro, posicionou-se ao volante e, quando ia dar a partida, cadê a chave?... Não estava na ignição e nem sabia onde a tinha posto. Desceu do carro, foi não sei onde, perguntou a não sei quem, depois voltou ao carro e, pensativo, sentou-se novamente ao volante, mas... sem a chave. De repente percebeu algo estranho, que não explicou e nem precisava explicar: ele estava sentado em cima da bendita chave.

 

Depois desse ‘causo’ e para completar a carga, chegou mais galhofa no grupo. Agora alguém citou outro irmão, que saiu para fazer compras ou não sei o quê, e voltou para casa a pé, deixando o carro para trás. Compras, certamente não foi, porque fico imaginando o mano carregando pesadas caixas ou sacolas, caminhando quilômetros, enquanto seu carro fica pacientemente cochilando no estacionamento do supermercado. Não, isso jamais aconteceria!

 

Felizmente, tudo isso são causos de uma família com certa vocação para ‘fazer rir’. Quando ao menos parte dos irmãos, que são onze, está reunida, todo mundo fala junto, dá risada e ninguém ouve ninguém para, no fim, todos saírem satisfeitos com as novidades. E no grupo de WhatsApp é mais ou menos desse jeito também. Tem vez que alguém destampa a falar sobre um assunto, e outro atravessa a conversa com algo que não tem nada a ver com o tema. Quem chega depois verá muitas dezenas de mensagens sem nexo algum. “Hoje o jornal estava comprido e custei para varar até em baixo”, disse um irmão outro dia, que chegou atrasado e perdeu a tertúlia.

 

No dia em que falaram da “perda de memória”, não pude participar porque estava trabalhando em outra página do computador, mas volta e meia eu entrava e conferia o assunto. Estava com vontade de falar de mim também, de meus 'dramas mnemônicos', mas deixei pra lá. Agora, no silêncio do blog, fico mais à vontade para dizer que minha memória está meio capenga. Faz tempos que observo isso sem, no entanto, perder o sono.

 

Certa vez, fui ao mercado para fazer compras. Não seria ‘fazer compras’ mesmo, mas comprar algo, que não consegui trazer para casa. E sabe por quê? Porque eu não me lembrava do nome do produto. E sabe que produto eu queria comprar? Gelatina! Eu não lembrava dessa palavra!...

 

Bem diferente do anedotário lá em cima, meu caso é sério. Porque “cabeça fraca” pode ser o fim da carreira de um professor.

 

FILIPE 

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