A foto acima foi tirada enquanto nós, os Moura Lima, estávamos
reunidos na varanda de nosso saudoso pai. Foi neste espaço que papai viveu o
melhor de suas horas desde que a velhice lhe tocou o ombro. Aqui o patriarca
usava suas redes sociais, fazia palavras cruzadas, ouvia rádio, jogava baralho
com as netas, recebia os amigos para tomar café, proseava e tirava um cochilo
num velho sofá. É nesta varanda que a família sempre se reúne para refeições,
preces e até uma espécie de sarau musical, que vez ou outra acontece. Por tudo
isso, este modesto anexo da casa tornou-se para nós um espaço sagrado, quase um
templo.
A iniciativa do nosso encontro começou assim. No dia seguinte à
despedida do papai, nós nos reunimos para acertar coisas pendentes e decidir
quais caminhos trilharíamos a partir de então. Naquela ocasião, eu propus
que se fizesse uma reunião anual com todo o ‘clã Moura Lima’. Todos aceitaram a
minha sugestão, mas, como sempre, não faltaram alguns tropicões. E, entre
convergências e divergências, uma data foi provisoriamente acertada. Tempos
depois a data foi alterada a fim de que todos pudessem comparecer. E assim
aconteceu, apesar de grande sacrifício de alguns que tiveram de viajar a noite
toda para ficar umas poucas horas com a família, e ainda retornar no mesmo dia,
viajando por outra noite inteirinha. Todavia, o esforço valeu a pena e nosso
encontro passará a ser uma ‘efeméride’ – segundo a definição de um irmão mais
intelectualizado.
Então, sob o sisudo cajado do irmão mais velho – cuja primogenitura
é exercida por ele com indisfarçável gozo – pudemos experimentar momentos de
profunda emoção nesse encontro, havendo lágrimas torrenciais, particularmente
quando se rememorou o legado de nosso pai. No entanto, sonoras risadas também
puderam ser ouvidas de longe quando um Moura Lima mais engraçadinho desanuviava
o ambiente. Já ao fim de nossa “tertúlia”, houve missa concelebrada pelos três
irmãos padres e depois o almoço patrocinado pela nossa querida mãezinha, que se
encontra enferma.
O nosso compromisso é de nos mantermos unidos, conforme exortava
nosso velho e bom pai. Contudo, de vez em quando um fio desencapado costuma produzir
alguma faísca, provocando um breve curto-circuito no grupo de WhatsApp –
problema logo resolvido por um irmão mais habilidoso. Mas é importante
ressaltar que temos a fortuna de não encontrar na irmandade ninguém de “gênio
forte” – usando aqui uma metáfora um tanto açucarada para “alma cabeluda”.
Dessa forma, a nossa convivência se torna mais tranquila sem que isso seja uma
virtude dos Moura Lima.
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