“Escreva algo positivo no jornal.
Tem dia que atendo confissões por até quinze horas, celebro missa no cemitério,
faço tantas outras coisas... e você vai ao jornal só para criticar?! Vá lá,
escreva alguma coisa boa, que os católicos agradecem!” Assim, o pároco da
catedral de Amparo interrompeu a sessão de abraços, fartamente distribuídos aos
fiéis numa extensa fila após a missa matinal no Domingo de Páscoa, para me dar
esse pito.
Penso ser desnecessário dizer
publicamente, mas admiro o trabalho do padre Anderson à frente da Catedral. Amável,
discreto, exigente e comprometido, esse jovem sacerdote exerce com louvor seu
ministério. Suas celebrações são concorridas, sobretudo pelos jovens, que não
suportam delongas – aquelas missas intermináveis. Além de pastor zeloso, é um
destacado administrador do rico patrimônio histórico sob sua responsabilidade,
cuja manutenção é feita com singular desvelo.
Justiça seja feita também a
inúmeros religiosos, além do padre Anderson, que doam a vida em favor dos
deserdados. Num trabalho silencioso, muitos pastores declinam do conforto da
“civilização” e se embrenham nos sertões inóspitos, enfrentando os rigores da
natureza, a pobreza e muitas vezes os violentos da sociedade. Levam a palavra
aos sem voz, a liberdade aos cativos e a alegria aos entristecidos.
Padre Anderson tem razão. Eu
tenho sido áspero nas minhas observações e talvez injusto nas avaliações. Mas a
nota publicada por mim, aqui na Tribuna,
pareceu-me justa e não lhe era direcionada. Lamentei o fato de “Biomas”, o tema
da Campanha da Fraternidade deste ano, tão rico e oportuno, ter sido ignorado e
substituído por “dados estatísticos” de nossa diocese. Também fiz menção a uma “névoa”,
intrigante e misteriosa, que encobre a reluzente figura do Papa Francisco cujas
exortações não fazem eco por aqui.
Reafirmo, com pesar, minha
crítica. A CNBB – graças a Deus, nós a temos – vem denunciando veementemente os
desmandos da classe política perpetrados contra os trabalhadores. Estes, os verdadeiros construtores da nação e
que vivem exclusivamente de seu labor, assistem pasmados à supressão de seus
direitos via reformas: trabalhista e previdenciária. Mas o brado da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil ainda não ressoou nos templos durante as
celebrações a que assisto.
Nossos pastores deveriam ficar
mais atentos ao balido de suas ovelhas, porque uma alcateia está à espreita...
e já se aproxima!
FILIPE