“Aquele que não conhece sua história está condenado a repeti-la”
Deixo para comentar a frase acima
no final do texto, porque agora estou muito ocupado com minha mesa tão
bagunçada, como confuso também estão meus miolos e seus parcos neurônios entrelaçados
e preguiçosos. Tão preguiçosos e irresponsáveis como este computador, que fez desaparecer
o texto digitado de manhã. Ele, que sempre salvou automaticamente, dessa vez me
traiu.
Faz tempos que estou aguardando
minha sofrida aposentadoria no conforto do lar, onde passo o tempo lendo,
cuidando de meus vira-latas, fazendo pequenos serviços com madeira. Também
resolvi fazer uma horta onde plantei alguns pezinhos de almeirão. Só almeirão,
porque nada mais consigo produzir. A couve, o jacu devora; alface não prospera;
cebolinha dá pulgão; rúcula tem ferrugem branca. Mas, para quem não tem muito
jeito de hortelão, que pelo menos plante e colha almeirão. E é isso que faço
com relativo êxito.
E eis que o tempo passou, minha
aposentadoria não veio e terei que sair da sombra para voltar ao sol escaldante
da sala de aula. E faz dias que estou tentando preparar umas aulas sem saber ao
certo o que ensinar e sem ter certeza de que ainda tenho algo a oferecer. Um
turbilhão de coisas passa pela minha cabeça. Minhas noites mal dormidas são
invadidas pelos fantasmas das lousas, apostilas, planilhas, atividades, relatórios
e as intermináveis reuniões. E tem mais. Há as enfadonhas palestras de uns tais
especialistas, uma gente pernóstica que nunca deu aulas ou fugiu da sala de
aula ou de lá foi expulsa. São seres patéticos, com fumos intelectuais, que usam
neologismos à larga, mas tropeçam no próprio vocabulário.
Agora, voltando à frase que abre
a crônica, preciso dizer algo sobre ela. Quando eu fazia o antigo segundo grau,
hoje ensino médio, um professor nos apresentou a frase e atribuiu a Hegel sua
autoria. Mas parece que o autor não é Hegel, mas Burke. Para mim, no entanto, não
importa quem a fez nascer, mas sei que ela nos faz crescer. Manuscrevi essa ‘máxima’
numa cartolina e fixei na parede de meu quarto para que eu nunca perdesse de
vista tal advertência. E é exatamente sobre isso que pretendo falar.
Se os professores tivessem mais
autonomia didática e fossem estimulados, e até mesmo obrigados, a ler os
clássicos, estaríamos bem melhor. Um professor precisa ler cotidianamente
artigos e livros sobre artes, ciências, literatura, humanidades etc. e não baboseiras
pedagógicas. Todos precisamos conhecer ao menos a história recente de nosso
país. Precisamos saber o que foram as ditaduras e o que faziam seus agentes. Mas
parece que há uma conspiração oficial contra o desenvolvimento do pensamento
crítico. O resultado está aí. Gente supostamente esclarecida acreditando que a
terra é plana, que o STF é comunista e que os militares serão os nossos redentores.
Bom, sei que sem conhecimento não
há salvação, mas o que eu preciso mesmo é organizar a minha mesa, as minhas
ideias e preparar as minhas aulas.
FILIPE