Da latência de uma semente veio a
plantinha, que cresceu em silêncio e sem pressa. Seu caule, antes frágil, magrinho,
foi espichando e se encorpando, tornando-se um tronco robusto e forte. Seus
galhos foram abrindo devagar e outros galhos foram também surgindo e se entrelaçando,
formando uma frondosa copa. E então há uma vastidão de folhas, que se roçam e
sussurram ao sopro de brisa suave ou de ventos furiosos.
O tempo passando, a árvore cada
vez mais exuberante e... nada de frutos! E eu aqui ansiado por um abacate, que
nunca vem. Na última primavera, um cacho
de flores pôde ser observado, depois outro e mais outro. Esperei que das flores
viessem o fruto, mas não foi daquela vez.
Abacateiro, além da tua sombra,
quero teus frutos. Mas se tu não me deres frutos, nada te acontecerá. Machado
algum te ferirá a carne. Permaneça onde estás e fica na paz. Abriga na tua
folhagem a maritaca, o bem-te-vi, o sanhaço e a garrinchinha; abriga também o
tico-tico, a coleirinha, o canário-da-terra e a sabiá. Prometo-te que, enquanto
eu estiver por aqui, tens como presente um futuro bastante seguro. Acredita em
mim e me deseja vida longa, porque tu só tens a ganhar com minha longevidade.
Mas nesta primavera o meu abacateiro
floriu. São milhares de flores. Em cada galho um ramalhete com dezenas delas; e
em cada ramalhete uma miríade de abelhinhas sugando o néctar.
Caro abacateiro, pensando bem, tu
nem precisas dar frutos. Dá-me tua sombra e isso me basta; às abelhas, dá tuas
flores. E assim, não te faço mais cobranças. Tu talvez não saibas, mas há uma
família de abacateiros a poucos metros de ti. Lá em cima, um gigante deu vinte
frutos na última safra. Desta vez, contudo, a florada promete uma centena. Há por
aqui uns parentes teus – ainda pequerruchos,
uns “moleques” – que vão demorar algum tempo para adolescer, florescer e frutificar.
E então, eu tenho um pé de
abacate e dele me orgulho muito. Fico feliz por possuir essa fortuna. Da minha
mesa de trabalho, observo absorto a movimentação: um passarinho chega e outro
também; um sai e o outro vai atrás enquanto dois outros chegam: bicam uma
folha, mudam de galho, cantarolam e desaparecem. Depois outro vem e vai também.
Ah, como eu gostaria de que em
toda casa houvesse ao menos uma árvore, e essa árvore nem precisaria ser um
abacateiro.
FILIPE