Rupturas acontecem ao longo de
uma existência: vida mais longa, mais rompimentos. A velha aritmética demonstra
isso, e convence. Entre os muitos enlaces e desenlaces, há entrelaçamentos de
frágeis estruturas que trincam, vergam e desmoronam ao sabor das mais amenas
emoções. Tudo parece ir bem, sem esforço, mas sempre da ordem para o caos –
conforme manda a ‘entropia’.
Rupturas acontecem entre colegas,
vizinhos e, acredite, ‘amigos’ de redes sociais. Aliás, essa forma de amizade parece
tão sólida quanto uma paçoquinha. Eventualmente há nessas mídias alguma solidariedade,
vale registrar. Todavia, a convivência cotidiana é o grande teste a que todos nos
submetemos, e nele sucumbimos.
Romper-se com amigos ou
familiares é rotineiro e dolorido. Não há por que comemorar o fim de uma proximidade,
mas, apesar desses tropeços, a Terra continua em seu bailado girando, girando.
E a vida segue sua trajetória curva. Nós, rápido ou devagar, vamos passando a
passeio.
Uma fratura conjugal é a mais
dramática de todas as rupturas. Ainda hoje, deparei-me com um caso desses. A
mocinha confidenciou-me com olhos marejados a separação dos pais. Sem algo a
lhe dizer, apenas balbuciei palavras do tipo “se precisar de um apoio
emocional, conte comigo”. Ela agradeceu, dizendo: “Foi melhor para os dois!”
Aquele triste desfecho teria sido
precedido de uma ‘fermentação’ não simples. Um religioso, quando “fermentado”
por uma crise, pode reclusar-se em sua cela, consumir-se em ascese e
arrebatar-se numa ‘experiência mística’. Para um casal em crise, no entanto,
não há ascese nem mística que o auxilie. Terá que resolver suas pendengas “olhos
nos olhos”, tête-à-tête. Nada de
dormir no sofá, porque a crise só vai agudizar. A busca solitária de “novos
ares” como botecos, viagens etc. selam inapelavelmente o fim da relação.
Muita gente parece não saber, mas
o reatamento de um casal não é como a reconciliação de irmãos, amigos ou
vizinhos. Aquele terno e lacrimoso abraço é para uma reconstrução fraterna. É
lindo, maravilhoso, mas não cola "cacos conjugais". Na relação de um
casal, não se oferece apenas o teto, a mesa, a mão. Oferta-se o corpo, esse sacrossanto
e improfanável templo.
Nada justifica, contudo, o ódio
pós-relação. Não sendo possível a convivência, que permaneça o carinho. A humanidade
precisa mesmo é de amor fraterno – que sempre cabe, porque sua medida é justa.
Ao longo dos anos, encontrei
pessoas amáveis, as quais não consegui retribuir afeto. Também encontrei
pessoas amargas. Algumas daquelas adoçaram um bom naco da minha vida. Encontrei
também amigos de verdade, mas alguns se afastaram, enquanto outros ‘perseveram’.
Com muitos ou poucos amigos, no
fim estaremos sós. Ninguém estará conosco no momento derradeiro. A solidão,
sim, é a mais fiel e íntima das companheiras. Abracemo-la porque com ela nunca
romperemos. A solidão jamais nos abandonará!
FILIPE