Tenho uma estreita ligação com as
bananas, que vem desde minha infância. Penso que se alguém não consegue
identificar a banana que está comendo: se é prata, ouro, maçã ou nanica – para ficar
nas mais comuns – deve ser uma pessoa muito triste. Agora, um campesino não
pode viver impunemente se ele nunca plantar ao menos uma bananeira. Eu já
plantei alguns pés de banana, mas ultimamente estou entusiasmado é com a
banana-ouro.
Meu pai também tem afinidade com
a banana-ouro, e ele conta uma pequena história sobre ela. Ele diz que em certa
ocasião, com a idade de uns dez anos, foi com seu pai procurar uma vaca lá pelos
lados da casa de uma tia nossa, a Áurea Moura. Naquelas redondezas, eles viram um
cacho dessa banana no ponto de ser colhido. Como a tia Áurea não morava mais
lá, ela se mudara com a família para a cidade grande, vovô cortou o cacho e o levou
para casa. Depois ele chegou a procurar o dono do sítio para pagar, mas o homem
não quis receber.
Na infância eu também tive um
pequeno caso de amor com essa fruta. Foi quando meu avô Sebastião cedeu a meu
pai um pequeno terreno para plantarmos o que quiséssemos. Vovô propôs isso, porque onde morávamos havia
um vizinho com uma criação de porcos que era um inferno: tudo que plantávamos
os porcos comiam. Então, ao tomarmos posse do terreninho, havia nele uma
pequena moita de banana com um cacho quase no ponto. Era banana-ouro, eu me
lembro bem.
Hoje não moro no sítio e meu
vizinho não tem porco solto – e nem preso. Mas eu tenho um pequeno pomar e
nesse pomar há um pé de banana-ouro. Ganhei
a muda de uma vizinha e a plantei, sem muito ânimo, junto a outras que já
estavam “belas e formosas”. Aquela plantinha, tímida, raquítica, cresceu em
silêncio sob a sombra das colegas e seguiu seu destino. E em silêncio também ela pariu um cacho, que
meu pai disse não parecer banana-ouro. “Banana-ouro tem as frutas separadinhas
umas das outras” – ele disse, mostrando a mão espalmada para explicar o que seria
uma penca de banana-ouro. Também
desconfiei. Essa espécie de banana não costuma dar cachos grandes, e aquele era
enorme. Esperei para ver no que daria e, de fato, era um cacho espetaculoso de
banana-ouro.
A casca amarelinha e fina esconde
um fruto também amarelinho e muito doce. Descascar a banana-ouro é quase
difícil. Você puxa a casca e ela não se rompe. Puxa mais e começa a deformar o
fruto. Às vezes é preciso fazer um corte para descascá-la com mais facilidade.
Soube recentemente que cerca de 80
por cento das espécies de banana estão ameaçadas pela praga conhecida por
‘mal-do-panamá’. Mas certamente a banana-ouro não está entre elas, porque essa
espécie é marruda. Uma moita de banana-ouro sobrevive no meio do mato, e
frutifica! Em qualquer solo, mesmo se a situação não lhe for favorável, ela dá
ao menos uma penca. Mas cada bananinha é bem-acabada, gordinha, feita com
esmero, como se fosse a única do cacho. Ah, a banana-ouro faz honras ao nome!
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