Peço desculpas ao eventual leitor pela minha
falta de inspiração e desassossego. Mas, para o momento, é o que se apresenta.
Estou enviando o texto abaixo para todas as instâncias que se fazem
responsáveis pela administração do ensino em São Paulo. Não me preocupa a
possibilidade de sofrer represálias, mas a certeza de que nada vai mudar. Na
próxima postagem, me esforçarei para ser suave.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
A Avaliação
Diagnóstica promovida pela SEE-SP é uma feliz iniciativa. Verificar de forma
padronizada o quanto há de progresso ou defasagem no alunado poderá trazer
muitos benefícios à Rede, além de auxiliar nas avaliações externas como SARESP,
Prova Brasil ou ENEM. Porém, a maneira como ela vem sendo executada é
desalentador. Não bastasse a inadequação de conteúdos cobrados em determinadas
séries, ou a falta de rigor conceitual na apresentação de alguns enunciados, os
avaliadores pecam contra a economia e a ecologia. O desperdício de material é
calamitoso. Para questões cuja solução demandaria um espaço não superior a três
linhas, o caderno lhe reserva uma página inteira. Isto, sem considerar outras
questões pueris, em que nada se pode fazer a não ser assinalar uma alternativa.
Mas está lá um fabuloso espaço sob o título “resolução”.
Deve-se
repensar urgentemente tal assunto, pois o professor que, em sala de aula,
exorta seus alunos a usar racionalmente o material escolar para não haver
desperdício, agora se depara com material oficial na contramão de suas
prédicas. E não se trata de um projeto piloto da SEE. Esta já é a quarta edição
da dita avaliação, tempo mais do que suficiente para reajustes. Mas eles jamais
aconteceram, e alguns milhões de folhas de papel são descartados como lixo. Até
as provas ora aplicadas são “requentadas”, isto é, simples repetição de edições
anteriores.
Este,
evidentemente, não é assunto prioritário na pauta de discussões entre gestores
e educadores. Há questões mais candentes: a famigerada progressão continuada
que perpetua a ignorância; a crônica falta de docentes devido à má remuneração
e às péssimas condições de trabalho; a injusta política de progressão funcional
com seus movediços e excludentes critérios de acesso; os famigerados “cadernos
do aluno” numa risível concorrência com livros didáticos criteriosamente
avaliados e selecionados pelo MEC; as misteriosas avaliações do SARESP cujos
cadernos de questões são de natureza ultrassecreta, privando os professores de
discutir erros e acertos com sua clientela; a humilhante bonificação baseada em
autêntica “numerologia”, submetendo os professores a um hercúleo “trabalho de
Sísifo”; (...). Há mais, muito mais. Porém, para o momento, uma única questiúncula:
desperdício de material (leia-se: dinheiro público).
O diálogo é
fruto da humildade. Mas não parece ser esta a virtude maior nas relações entre
atores educacionais. Aqueles que “pensam” a educação põem-se muito acima e
distante dos que realmente ousam fazê-la acontecer. E a educação de fato
acontece. Não nos aprazíveis, climatizados e acarpetados gabinetes de quem se
autodenomina especialista; mas no ruidoso, empoado, insalubre, inseguro e não
raramente violento chão da sala de aula.
Eis a gênese
do desmantelo, da degradação, do apocalipse educacional na mais rica Unidade da
Federação. E nessa irresponsável escalada experimentalista já de duas décadas,
nesse continuum reinventar da “roda pedagógica”, aproximamo-nos celeremente do
Paleolítico.
FILIPE