Este é José Lopes, meu pai, e essa foto foi
tirada por mim neste Carnaval. Postei-a aqui porque a achei magnífica,
fidedigna, uma das melhores das inúmeras que já tirei dele.
Papai tem oitenta e nove anos,
mas não só. Tem também muita disposição. Saiu de sua Guiricema às vésperas
deste carnaval para visitar um filho distante, que sou eu. Quase setecentos
quilômetros é a distância que nos separa. Chegou à tardezinha com seu filho
caçula. Embora bem-disposto e bem-humorado, papai estava cansado e tinha uma
ferida provocada por um furúnculo, ou algo semelhante. Ele suspeita de erisipela,
mas talvez não seja. Houve vermelhidão e inchaço, preocupando-nos bastante, mas
ele mesmo não dava muito bola para isso. Apenas pediu chá de “mercurim” e de “cinco-folhas” – plantas
medicinais que ele conhece tão bem e que trouxera consigo para esse fim.
Improvisei um curativo com gaze e fita crepe e ele não reclamou de dores nem
desconforto. Na volta, meu irmão o levou a um hospital, onde foi feita uma pequena
cirurgia para drenagem. “Eles enfiaram uma agulha dentro do machucado para
anestesiar!”, disse-me aflito o caçula, o que me provocou arrepios só de
imaginar a dor aguda que papai certamente sentiu. Ele, no entanto, ficou
impassível diante daquela tormenta.
É uma alegria muito grande
receber o “velhinho” na minha casa, e fico imensamente agradecido a Deus por
isso. Não sei se pude atendê-lo bem, mas tentei. Ou não tentei o suficiente?...
Ih, acho que não. No almoço, durante um churrasco, eu lhe fiz um sanduíche.
Ele, muito educado, não pediu mais nada, ficando apenas com aquele lanche
frugal. À noite, quando lhe foi oferecido janta, é que ele disse: “Estou desde
cedo com aquele lanche que meu filho me deu como almoço.” Ah, paizinho... Eu nem
me dei conta disso. Pensei que o senhor fosse atrás da “caça”.
Mas papai me trouxe serviço, e
bastante. Manuscritos e uns arquivos de computador deverão ser editados para a
publicação de um livrinho em novembro, na ocasião em que completará seus ‘noventinha’. Com essa obra, papai
concluirá uma pequena trilogia autobiográfica.
Conversar com o papai é um
passeio nos tempos antigos por ele vividos. É impressionante sua narrativa tão
rica, tão meticulosa, permeada de datas, nomes e lugares. Seus escritos são uma
pequena mostra do que nos conta. De minha parte, vou compilar seus textos e
tentar fazer um serviço bem-feito, mas dificilmente poderei corresponder às
expectativas do narrador e do leitor.
Obrigado, meu pai, pela visita.
Obrigado também pela confiança depositada em mim. Farei o possível para não
decepcioná-lo, ainda que eu tenha de suspender as publicações neste blog por
algum tempo.
A sua bênção, papai!
A sua bênção, papai!
FILIPE