sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A TORRE DOS VELHINHOS



É lamentável e moralmente reprovável a instalação de uma torre de telefonia móvel no Lar dos velhos de Amparo. Têm razão os moradores do bairro em seus reclamos; muito mais razão têm os preocupados velhinhos daquela instituição, que, a partir de agora, terão de sobreviver ao abrigo de tão assombroso “monumento”. Muitos deles, ainda lúcidos, se queixam dessa engenhoca, temendo pela saúde e até mesmo por uma eventual queda daquele “trambolho” sobre o prédio. 

Deixando as “jabuticabas jurídicas” para os juristas, o que se discute é a (i)moralidade do gesto. Nenhum diretor do Lar dos Velhos, ainda que fosse consultado, aceitaria que seu vizinho alugasse o quintal para que nele se instalasse uma torre dessas. Alegar-se-ia que, embora não haja estudos que provem malefícios da radiação, também não se prova a inexistência de possíveis danos à saúde a médio ou longo prazo.

A alegada motivação orçamentária, defendida pelo presidente da instituição, Sr. Walter Pozzebon, não convence. Caso o Lar dos Velhos passe mesmo por dificuldades, a diretoria deveria abrir seu livro-caixa para a sociedade, apontando todas as entradas e justificando todas as saídas. Havendo necessidade o povo amparense, com certeza, tiraria da penúria financeira esta centenária instituição. Mas não parece ser esse o problema. Até porque este articulista já tentou ser um associado da Casa para poder contribuir regular e sistematicamente com o caixa da instituição, mas o aludido presidente indeferiu o ingresso. Isso prova que o Lar dos Velhos não necessita de mais recursos, pois está abrindo mão de receitas que seriam advindas com novos sócios.

Conclui-se, afinal, que não se faz necessária a instalação de nenhuma torre de telefonia com o fito de melhorar a saúde financeira do Lar dos velhos. E para a saúde e tranquilidade dos velhinhos, basta a “torre de óleo” tão generosamente construída pelos amparenses.

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      Publiquei recentemente esse texto no jornal “A Tribuna” de Amparo. Esperei, em vão, pela habitual réplica do beligerante presidente do Lar dos Velhos, por quem já fui acusado de “distribuir doces vencidos” aos velhinhos, dentre outras traquinagens. 

      As próximas postagens serão mais amenas. Tenho sido muito amargo, porém a vida nos exige suavidade.


FILIPE

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

DEMOLIÇÃO PEDAGÓGICA

Não é para diletantes a arte do mestre-escola; nem a do pedreiro que reboca o teto de uma casa (deve doer bastante o pescoço de tanto olhar para cima!) ou do projetista de uma catedral, para ficar apenas no ramo da construção. É preciso muito mais do que boa vontade ou idealismo. É preciso competência, o que me falta, é claro – vou logo dizendo.
Por falar em construção – seara de uma gente miúda e palpiteira, alérgica a pó de giz, mas que se diz construtivista –, tentarei anunciar um projeto de demolição neste pequeno texto. Convido o leitor a me acompanhar. Serei breve.
Recentemente fui convocado pela Delegacia de Ensino para uma reunião. Eu digo delegacia, mas é proibido. O nome certo é mais pomposo: Diretoria de Ensino, embora não exista por lá um corpo de diretores que justifique o termo “diretoria”, é assim que se diz oficialmente; do contrário, corre-se o risco de ser convocado a comparecer numa delegacia de verdade. É bom tomar cuidado e não brincar com essas coisas!
As delegacias de ensino (ops! Diretorias de Ensino) não se cansam de tirar professores da sala de aula, convocando-os para fóruns em que são discutidos temas como “As Origens e os Rumos do Nada Pedagógico”. Levas de professores, após empanturrarem-se de bolachas, biscoitos e sucos de caixinha, dirigem-se ao auditório para cantar o Hino Nacional e aplaudir os mandarins. Nesta última, uma palestrante já bem madura, mas com fumos de doutora recém-alfabetizada, insistia com suas “peripérsias” educacionais (sabe-se lá o que é isso). Assim estava escrito  e assim era pronunciado por ela, a estrela mater do evento. A mestra orientava os presentes sobre como lidar com alunos recalcitrantes: “Se não quer fazer a lição, é preciso negociar. Pais e professores devem investigar o porquê disso. Já ocorreu o caso de um aluno de oito anos não fazer as lições, pois ele achava as questões muito ‘burras’. Isso mesmo! Propus a ele que rescrevesse as questões. E não é que ficou melhor do que o livro?!” – ensinava a doutora. O auditório ouvia silente, não se sabe se em êxtase ou pasmado, conquanto não houvesse abertura para debate. A palestrante veio para falar e nós deveríamos ouvi-la. Claro que tive fúria, mas também tive muito sono. Mas acho que não dormi.
No final, teria que preencher um papel avaliando o evento. Eu não sabia que era para elogiar. Juro! Então, resolvi escrever o que realmente achava daquilo, pois sempre imaginei que um palestrante metido a educador deveria ter erudição; caso contrário, eu também palestraria.  Mas alguém da organização ficou uma fera. E sua ferocidade foi tamanha, que se fez chegar até mim por vias pouco convencionais.

Ah, o projeto! É do governo paulista. Para o atual concurso, ele teve a brilhante ideia de admitir professores amadores. Explico: um futuro professor de Matemática, por exemplo, não precisa dominar álgebra, geometria nem aritmética. Para que seja aprovado, basta saber legislação e pedagogia – essa coisa inútil que faz apodrecer miolos. Decretou-se, pela primeira vez na República, que um profissional da educação estará apto para o cargo desde que domine generalidades, ainda que seja nulo em sua área. Para tanto, estabeleceu-se que o peso das questões específicas seja de apenas 30% da prova, contra 70% de baboseiras pedagógicas. Este é o projeto demolitório do governo demo-tucano paulista para educação popular. Acredite.
FILIPE

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CARTA A UM PREGADOR



Assistindo à Santa Missa presidida pelo senhor, percebi alguns deslizes em sua homilia. Vou abordá-los sob meu ponto de vista e me abro para suas possíveis considerações.

1º - Teologia da Libertação: Não é verdade o que o senhor disse sobre esse movimento na Igreja. A T.L. surgiu no final dos anos setenta como um necessário tempero à teologia vigente. E como tempero ela sobrevive no seio da Igreja. Ainda: sendo tempero, a T.L. jamais poderia ser a essência, pois não se pode  alimentar-se exclusivamente de sal.

2º - Pobres versus ricos: O senhor disse que o rico se fez pelo trabalho - alguém que batalhou etc. E disse que o pobre é aquele que segue à Igreja, ou algo assim; que todos naquela assembleia eram pobres; que o dinheiro é bom e necessário e ninguém vive sem ele; que há pobres morando em barracos inabitáveis, mas com tevê de última geração e parabólicas; que a Igreja não pode fazer discurso contra a riqueza; que as comunidades primitivas entregaram seus bens aos apóstolos e ficaram na miséria; [...]. Nesse particular o senhor revela um tremendo preconceito contra os pobres e desconhecimento da História da Igreja sobre os Primeiros Cristãos. Quanto aos favelados, o senhor conversou com eles para saber do que vivem, quais são suas prioridades, quantas são as passagens pela polícia, ou há quanto tempo são foragidos da Justiça? Investigou a respeito disso? E se são pessoas sérias, honestas, trabalhadoras, que preferem uma tevê LCD a uma porta de vidro? Elas não podem fazer sua escolha? Essas pessoas, da tevê de última geração e barraco aos pedaços, podem ser dizimistas fiéis ou até catequistas na comunidade. E aí, como ficamos?

3º - Bolsa Família: Esta parte doeu. Entendo que quem critica o programa B.F. é ignorante ou fascista. Como não considero o senhor ignorante nem fascista, fico sem palavras. Só gostaria de dizer que nossa sociedade, hipócrita que só, bate no B.F., pois os miseráveis já podem comprar o seu arroz com feijão para se alimentar, não dependendo mais dos caprichos de escravocratas. Quem é mais velho e conserva alguma memória deve lembrar-se dos tempos de fome no País. Famílias e mais famílias não tinham o que comer, mas graças a Deus isso passou. Saiba o senhor, que ninguém sobrevive exclusivamente do B.F., pois seu valor é pequeno; uma ajuda somente, mas necessária.
                Gostaria que o nosso querido Sr. P. refletisse sobre estas questões podendo, inclusive, debatê-las. Acredito que seja um dedicado missionário, que entrega sua vida à Igreja, e que este seja apenas um infeliz discurso com involuntário viés ideológico. Mas que pode ter comprometido sua homilia, despertando ou estimulando a hostilidade social contra os assistidos pelo Estado através do “Bolsa Família”.

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Entreguei esta carta assinada e com endereço na coleta do Ofertório. Aqui preservo o nome do sacerdote, a quem chamo de P.. Posso estar errado, mas não suporto arroubos nazifascistas, não importando se de ateus ou religiosos. Haverá de minha parte a contrapartida. Sempre. Acrescento, porém, que fui merecidamente ignorado.

FILIPE