Não é para
diletantes a arte do mestre-escola; nem a do pedreiro que reboca o teto de uma
casa (deve doer bastante o pescoço de tanto olhar para cima!) ou do projetista
de uma catedral, para ficar apenas no ramo da construção. É preciso muito mais
do que boa vontade ou idealismo. É preciso competência, o que me falta, é claro
– vou logo dizendo.
Por falar em
construção – seara de uma gente miúda e palpiteira, alérgica a pó de giz, mas
que se diz construtivista –, tentarei anunciar um projeto de demolição neste
pequeno texto. Convido o leitor a me acompanhar. Serei breve.
Recentemente
fui convocado pela Delegacia de Ensino para uma reunião. Eu digo delegacia, mas
é proibido. O nome certo é mais pomposo: Diretoria de Ensino, embora não exista
por lá um corpo de diretores que justifique o termo “diretoria”, é assim que se
diz oficialmente; do contrário, corre-se o risco de ser convocado a comparecer
numa delegacia de verdade. É bom tomar cuidado e não brincar com essas coisas!
As delegacias
de ensino (ops! Diretorias de Ensino) não se cansam de tirar professores da
sala de aula, convocando-os para fóruns em que são discutidos temas como “As Origens
e os Rumos do Nada Pedagógico”. Levas de professores, após empanturrarem-se de
bolachas, biscoitos e sucos de caixinha, dirigem-se ao auditório para cantar o
Hino Nacional e aplaudir os mandarins. Nesta última, uma palestrante já bem
madura, mas com fumos de doutora recém-alfabetizada, insistia com suas
“peripérsias” educacionais (sabe-se lá o que é isso). Assim estava escrito e assim era pronunciado por ela, a estrela mater do evento. A mestra orientava
os presentes sobre como lidar com alunos recalcitrantes: “Se não quer fazer a
lição, é preciso negociar. Pais e professores devem investigar o porquê disso.
Já ocorreu o caso de um aluno de oito anos não fazer as lições, pois ele achava
as questões muito ‘burras’. Isso mesmo! Propus a ele que rescrevesse as
questões. E não é que ficou melhor do que o livro?!” – ensinava a doutora. O
auditório ouvia silente, não se sabe se em êxtase ou pasmado, conquanto não
houvesse abertura para debate. A palestrante veio para falar e nós deveríamos
ouvi-la. Claro que tive fúria, mas também tive muito sono. Mas acho que não
dormi.
No final,
teria que preencher um papel avaliando o evento. Eu não sabia que era para
elogiar. Juro! Então, resolvi escrever o que realmente achava daquilo, pois
sempre imaginei que um palestrante metido a educador deveria ter erudição; caso
contrário, eu também palestraria. Mas
alguém da organização ficou uma fera. E sua ferocidade foi tamanha, que se fez
chegar até mim por vias pouco convencionais.
Ah, o projeto!
É do governo paulista. Para o atual concurso, ele teve a brilhante ideia de
admitir professores amadores. Explico: um futuro professor de Matemática, por
exemplo, não precisa dominar álgebra, geometria nem aritmética. Para que seja
aprovado, basta saber legislação e pedagogia – essa coisa inútil que faz
apodrecer miolos. Decretou-se, pela primeira vez na República, que um profissional
da educação estará apto para o cargo desde que domine generalidades, ainda que
seja nulo em sua área. Para tanto, estabeleceu-se que o peso das questões
específicas seja de apenas 30% da prova, contra 70% de baboseiras pedagógicas.
Este é o projeto demolitório do governo demo-tucano paulista para educação popular. Acredite.
FILIPE
Tem que pegar amador mesmo, não tem mais profissional que queira trabalhar com essas condições. Logo tem de jogar uma rede e pegar quem passar na porta da escola. E o que é pior e muito humilhante, quem trabalhou 29 anos sem tirar licença é tratado com desprezo pela diretoria, parece que estão fazendo um favor de olhar, detalhe, só olhar minha aposentadoria.
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