Nos anos oitenta, quando eu
terminava o segundo grau (hoje ensino médio), havia um colega de sala que costumava
usar um apetrecho com a suástica. Como eu já não tinha proximidade com aquele
rapaz, o seu gesto acabou piorando as coisas, gerando certa antipatia em nós.
Fato é que eu não entendia por que aquele moço, moreno e de traços nordestinos,
pudesse ostentar um símbolo nazista – algo no mínimo contraditório. Bocudo que
sempre fui, talvez eu tenha mofado dele sobre essa bestagem, embora eu não me
lembre de ter feito isso. Certo dia, porém, um professor perguntou a ele o
porquê daquela insígnia e teve como resposta que seria um gesto em prol da
causa palestina. Como eu não sabia nada sobre o movimento palestino, aquela
informação, que me chegou de forma enviesada, foi de pouca serventia e não
melhorou a imagem que eu tinha do jovem rebelde.
Aqui, abro parênteses para a
causa judaica. Parte de meus estudos foi realizada durante a ditadura militar
e, não se sabe por quê, naquele tempo os professores de história não citavam o
nazismo. Todavia, foi de um professor de artes, que dava aula nas noites de
sábado, de quem ouvi pela primeira vez relatos sobre os campos de concentração
nazistas. Aquela aula de história dada por um professor de educação artística
deve ter sido a mais proveitosa de todas as que tive naquele ano de 1981. A
partir de então, meu interesse sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto foi
despertado, mas a questão palestina ficou à margem de minhas leituras.
Embora eu não seja ativo nas
redes sociais, fiquei sabendo que há nelas uma batalha insana entre defensores
do Hamas e partidários das forças israelenses. Pelos ânimos tão acirrados,
tem-se a impressão de que todos conhecem a história do povo hebreu e a saga de
seus “primos” palestinos, tornando-se também especialistas em Oriente Médio e,
mais particularmente, na Faixa de Gaza. Contudo, desconfio que pouquíssimos consigam
sequer localizar no globo terrestre o mapa da região conflagrada.
De minha parte, penso ser impossível,
assim de afogadilho, tomar partido de um ou outro grupo, porque as coisas são muito
complexas. Os judeus, um povo que foi milenarmente perseguido, obteve a demarcação
de um território para si logo após o fim da Segunda Guerra – e isso me parece
justo. O problema é que esse território estava sendo ocupado há séculos pelos
palestinos, que foram expulsos em benefício dos “novos inquilinos” – e isso me
parece injusto.
Não podemos aceitar passivamente
o terrorismo, seja de guerrilheiros muçulmanos ou de forças regulares
israelenses, porque, se no Oriente Médio impera o terror, nas redes sociais e
nas rodas botequeiras tem-se o
horror. E dessa forma, as relações humanas vão sendo vorazmente destruídas
pelas labaredas ideológicas de lá e pelas boçalidades de cá.
FILIPE