Este texto, sem lirismo algum,
ácido, é o que brota de minhas fatigadas entranhas num momento de turbulência
nacional. Tenho evitado ler o noticiário, pois se há algo que me deixa
nauseabundo é a tal da covardia. “Não seja cobarde!”, dissera algum poeta dos
“oitocentos”, mas não se vê outra coisa nas mídias.
Talvez, com o fito de se parecer
chique, inteligente, intelectualizado ou sei lá o quê, muitas pessoas praticam
o hobby de achincalhar o PT e a dona Dilma. Fazem dela uma espécie de Collor,
aquele espectro de suadas memórias. Mas a dona Dilma não é Collor e o PT...,
bom, tá difícil falar de PT neste momento. Mas falarei daquela sofrida senhora
e isso já me alivia.
Observando um gráfico do
Datafolha, vê-se que a popularidade de dona Dilma vinha ascendendo mês a mês,
até atingir o pico de 65% de aprovação em março de 2013. Mas um mês após, em
meio aos protestos de junho daquele ano, iniciado pelo movimento Passe Livre,
sua popularidade despencou para 30%. A polícia paulista, a mando do governador
Alckmin, baixou o cacete na moçada, mas quem apanhou mais foi Dilma. Os
protestos não eram direcionados a ela, mas havia o receio de que pudesse se
reeleger. Certos grupos políticos apoiados pela mídia redirecionaram os canhões
e acertaram a presidente. Segundo especialistas no assunto, nunca na história
um chefe da nação teve queda tão brusca de aceitação sem um motivo que o
justificasse.
Hoje, quando pego o jornal pela
manhã, as manchetes são sempre desfavoráveis, negativas, um verdadeiro
linchamento da presidente. Coisas do tipo: “Câmara derrota Planalto”; “Dilma é
derrotada em sessão relâmpago”; “Governo é derrotado no Senado”; “Cunha derrota
Dilma”; (...). Afinal, quem são os derrotados: Dilma ou a sociedade? Seria
preciso explicar melhor que tipo de projeto está sendo rejeitado, mas isso não lhes
interessa.
Mas as coisas vão clareando, bem
devagar, mas vão. Tirante o escândalo da Petrobrás, uma coisa já bem antiga, gestada
no regime militar, mas que só veio à tona devido a interesses contrariados,
penso ter descoberto a causa de todo esse estardalhaço. Não falo dos pobres
insatisfeitos, que vão de ônibus para São Paulo bater frigideira na Paulista e
comer cachorro quente olhando para cima, admirando a beleza dos arranha-céus.
Não. Eu falo é dessa corja de endinheirados rentistas, que alugam prédios de
apartamentos e vivem como nababos no exterior. É essa gente maldita, com
dinheiro no HSBC, que quer a dona Dilma no calabouço. E sabe por quê? Eu sei e
vou contar, mas é segredo. A dona Dilma foi reeleita com o objetivo de corrigir
o Fisco. Apresentará projeto de lei para taxar grandes fortunas e quer
federalizar o imposto sobre herança. Em países avançados, os herdeiros chegam a
pagar mais de dez vezes o que se paga desse imposto por aqui, que é estadual e com
alíquota de apenas 4%. Já o imposto sobre as grandes fortunas poderá atingir 5%
dos brasileiros, todos com patrimônio igual ou superior a um milhão de reais. Esse
pessoal sabe disso e não quer perder. Para tanto, insufla o coitado do pobre
semialfabetizado contra o governo federal, usando-o como a desgastada “bucha de
canhão”.
Uma perguntinha só para encerrar
este texto, que já me cansa. Cite dois ex-presidentes da Câmara Federal. Não
lembra? Diga ao menos o nome daquele que antecedeu a Eduardo Cunha. Também não
lembra? Não, não se preocupe, pois você não está com amnésia. Presidente da
Câmara dos Deputados nunca teve muita importância neste país. Mas, como convém
aos nossos parlamentares, quase todos envolvidos em esquemas, coube a esse
cidadão representá-los com inusitado destaque. Eduardo Cunha, de origem no
submundo da política carioca e investigado na operação Lava-Jato, tornou-se o “Grande
Líder da República Tupiniquim”. Nós merecemos!
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