sexta-feira, 20 de março de 2015

NÓS MERECEMOS

Este texto, sem lirismo algum, ácido, é o que brota de minhas fatigadas entranhas num momento de turbulência nacional. Tenho evitado ler o noticiário, pois se há algo que me deixa nauseabundo é a tal da covardia. “Não seja cobarde!”, dissera algum poeta dos “oitocentos”, mas não se vê outra coisa nas mídias.

Talvez, com o fito de se parecer chique, inteligente, intelectualizado ou sei lá o quê, muitas pessoas praticam o hobby de achincalhar o PT e a dona Dilma. Fazem dela uma espécie de Collor, aquele espectro de suadas memórias. Mas a dona Dilma não é Collor e o PT..., bom, tá difícil falar de PT neste momento. Mas falarei daquela sofrida senhora e isso já me alivia.

Observando um gráfico do Datafolha, vê-se que a popularidade de dona Dilma vinha ascendendo mês a mês, até atingir o pico de 65% de aprovação em março de 2013. Mas um mês após, em meio aos protestos de junho daquele ano, iniciado pelo movimento Passe Livre, sua popularidade despencou para 30%. A polícia paulista, a mando do governador Alckmin, baixou o cacete na moçada, mas quem apanhou mais foi Dilma. Os protestos não eram direcionados a ela, mas havia o receio de que pudesse se reeleger. Certos grupos políticos apoiados pela mídia redirecionaram os canhões e acertaram a presidente. Segundo especialistas no assunto, nunca na história um chefe da nação teve queda tão brusca de aceitação sem um motivo que o justificasse.

Hoje, quando pego o jornal pela manhã, as manchetes são sempre desfavoráveis, negativas, um verdadeiro linchamento da presidente. Coisas do tipo: “Câmara derrota Planalto”; “Dilma é derrotada em sessão relâmpago”; “Governo é derrotado no Senado”; “Cunha derrota Dilma”; (...). Afinal, quem são os derrotados: Dilma ou a sociedade? Seria preciso explicar melhor que tipo de projeto está sendo rejeitado, mas isso não lhes interessa.

Mas as coisas vão clareando, bem devagar, mas vão. Tirante o escândalo da Petrobrás, uma coisa já bem antiga, gestada no regime militar, mas que só veio à tona devido a interesses contrariados, penso ter descoberto a causa de todo esse estardalhaço. Não falo dos pobres insatisfeitos, que vão de ônibus para São Paulo bater frigideira na Paulista e comer cachorro quente olhando para cima, admirando a beleza dos arranha-céus. Não. Eu falo é dessa corja de endinheirados rentistas, que alugam prédios de apartamentos e vivem como nababos no exterior. É essa gente maldita, com dinheiro no HSBC, que quer a dona Dilma no calabouço. E sabe por quê? Eu sei e vou contar, mas é segredo. A dona Dilma foi reeleita com o objetivo de corrigir o Fisco. Apresentará projeto de lei para taxar grandes fortunas e quer federalizar o imposto sobre herança. Em países avançados, os herdeiros chegam a pagar mais de dez vezes o que se paga desse imposto por aqui, que é estadual e com alíquota de apenas 4%. Já o imposto sobre as grandes fortunas poderá atingir 5% dos brasileiros, todos com patrimônio igual ou superior a um milhão de reais. Esse pessoal sabe disso e não quer perder. Para tanto, insufla o coitado do pobre semialfabetizado contra o governo federal, usando-o como a desgastada “bucha de canhão”.

Uma perguntinha só para encerrar este texto, que já me cansa. Cite dois ex-presidentes da Câmara Federal. Não lembra? Diga ao menos o nome daquele que antecedeu a Eduardo Cunha. Também não lembra? Não, não se preocupe, pois você não está com amnésia. Presidente da Câmara dos Deputados nunca teve muita importância neste país. Mas, como convém aos nossos parlamentares, quase todos envolvidos em esquemas, coube a esse cidadão representá-los com inusitado destaque. Eduardo Cunha, de origem no submundo da política carioca e investigado na operação Lava-Jato, tornou-se o “Grande Líder da República Tupiniquim”. Nós merecemos!


FILIPE

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