Dia desses, perdi preciosos
minutos com um vídeo que tem feito almas puras verterem as mais cristalinas
lágrimas. Traz a saga de um pobre camponês recém-casado, que se despede da
jovem esposa e sai à procura de trabalho. Após vários dias na estrada, ele encontra
ocupação numa fazenda, onde se estabeleceria. Contratado, pediu ao patrão que todo
seu ordenado fosse depositado numa poupança. Passados vinte anos, o camponês pediu
as contas e o patrão lhe propôs o seguinte: “Dou-te todo o salário ou três
conselhos. Se quiseres o dinheiro, não terás os conselhos; mas se quiseres os
conselhos, não terás o dinheiro”. O camponês, caboclo honesto e trabalhador,
mas meio pancado das ideias, ficou de
pensar. Matutou a noite toda e decidiu pelos conselhos. O patrão, muito “bondoso”,
como costumam ser os fazendeiros, deu-lhe três pães: dois para serem comidos
durante a caminhada e um para comer com a esposa, quando chegar em casa. E os
conselhos: “Vá pelo caminho mais longo, sem pegar atalhos; não dê ouvidos a
coisas do mal, como gritos de socorro, por exemplo; não espanque sua mulher
antes de saber que o cara que está com ela pode ser o seu filho”.
Bom, há várias versões dessa
“fábula” na WEB e quem quiser detalhes, que assista a um vídeo daqueles e
confronte com este texto. A mim, não interessa traduzir em palavras, imagens e
sons tão comoventes. Ademais, ainda que eu quisesse, jamais conseguiria fazer
alguém chorar com um texto. Mas quero apenas refletir sobre mensagens como
essas, que trazem no seu bojo alguma subliminaridade.
No vídeo, o patrão é um homem
bonachão e parece preocupado com o empregado, que volta para casa guiado pelos
“três conselhos”, caminha por vinte dias e tem como alimento apenas dois pães.
Não pôde pegar carona, pois o primeiro conselho dizia para “não tomar atalhos”;
não prestou socorro a um agonizante, pois o segundo conselho advertia para
“fugir do mal”; enfim, o mais sensato dos conselhos, o terceiro, também foi
fielmente seguido: evitou cometer um crime ao encontrar a esposa acompanhada de
um homem. Dispararia contra os dois, mas pensou: “Não posso tomar decisões com
a ‘cabeça quente’!”
Como nas fábulas infantis, o
final foi feliz. Depois dos abraços e beijos, como convém a certos reencontros,
a mulher foi para o fogão preparar o café, enquanto o filho... ah, não me
lembro. O pai pegou o último pão e... surpresa das surpresas: estava recheado
de dinheiro! Como a poupança de vinte anos de trabalho coube num pão, não se
sabe. Se bem que o pão era grande, mas...
Em tempos encardidos como estes,
quando deputado propõe que lavradores trabalhem em troca de casa e comida, o
vídeo traz uma mensagem subliminar: o patrão decidindo sobre a vida do
empregado, que é tratado como súdito. É
uma história piegas, desarrazoada, eivada de machismo, de egoísmo e com
apologia à vassalagem, mas faz sucesso nas redes.
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