A minha infância foi recheada de
histórias de assombração. Alguns desses casos pareciam verdadeiros, a fonte era
confiável, mas nunca consegui acreditar nisso. Estradas desertas, casas abandonadas e
encruzilhadas eram lugares preferidos das “coisas do outro mundo”. Algumas dessas “almas penadas” ficariam
empoleiradas nas porteiras durante a madrugada. Quando alguém se aproximava, a
“coisa” abria a porteira para que o andante passasse tranquilamente. Tranquilo?...
Segundo contavam, o coitado partia desesperado, em desabalada carreira. Chegando
em casa, pedia que não acendessem luz; tinha que ficar no escuro por algum
tempo, não se sabe por quê.
De um vizinho, homem respeitado
por sua valentia, contava-se que a “coisa” montara na garupa de sua mula. O “indesejado”
o acompanhou por todo o trajeto, gelando sua cacunda, até chegar em casa. O
animal bufava e suava, trotando com dificuldade, pois o troço era pesado à
beça. Noutro episódio, um parente
próximo teve de abandonar sua própria casa devido a fenômenos estranhos. Os
casos que ele conta são de arrepiar até os mais céticos, como eu.
Recentemente, um colunista da
Folha contou uma história dessas ocorrida em Ipanema, no Rio de Janeiro. Após o
falecimento do ocupante, um apartamento entrou em reformas, mas alguns
operários se recusaram a trabalhar lá. Descargas sanitárias eram acionadas
misteriosamente, lâmpadas piscavam, martelos mudavam de lugar; respirações
ofegantes, tosses, pigarros, passos também aconteciam sem que tivesse alguém no
local além do operário. Até o porteiro evitava visitar o imóvel devido ao caso.
Um senhor, alheio aos acontecimentos, alugou o apartamento e morou nele por um
tempo, mas não resistiu. Bateu em retirada, porque a coisa estava cada vez mais
fora de controle nas suas noites, que se tornavam longas e tenebrosas.
Não acredito em assombrações,
porque elas só aparecem a alguém sozinho, à noite, mas nunca no meio do dia e
para um grupo de pessoas. São elas tímidas, ou covardes? Mais: por que ao invés
de remover um pequeno objeto, como um martelo ou um livro, a danada não desloca
a geladeira da cozinha para a sala, ou um guarda-roupa do quarto para a cozinha?
Aí, sim, seria mais emocionante, não?...
Ainda. Por que os “seres das
sombras” não agem no sistema bancário, fazendo transferências de uma conta para
outra? Não dominam a tecnologia?... Se são do mal, poderiam praticar a maldade
de forma mais efetiva e charmosa; sendo do bem, a justiça social triunfaria!
Há pouco tempo uma dessas assombrações
pareceu ser do bem, quando o “usurpador” foi enxotado do Palácio da Alvorada.
Que interessante: um “vampiro” atormentado por “zumbis”, que o puseram para
correr! Mas poderiam ter feito o serviço completo, expulsando-o também do Jaburu, de Brasília, do País... que se encontra cada vez mais
mal-assombrado.
FILIPE
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