“Na natureza há três sexos: sexo feminino,
sexo masculino e sexagenário”, disse certa vez o grande Millor Fernandes, que certamente
tinha vivência e experiência pra fazer tal afirmação.
Sexagenário que sou, ainda não
estou preocupado com isso, mas percebo que a velhice não é aquele fantasma que
me assombrava a infância, a adolescência e parte da maturidade. A idade nos
limita fisicamente, mas nos liberta de muita coisa. De uns tempos para cá, por
exemplo, sou mais seletivo em meus contatos e meu círculo de amizade tem sido mais
restrito – e muito mais sólido também. Mas a velhice não pede licença e chega empurrando
a porta. Explico.
Dia desses fui ao dentista e após
avaliação minuciosa de meus dentes, ele disse: “Seus caninos e incisivos estão todos
muito bem preservados, mas com pequena retração da gengiva; já os molares
sofreram algum desgaste, mas de natureza fisiológica. Tudo isso está dentro da normalidade”.
Em outras palavras, o dentista me disse: “Você está velho, mas seus dentes
estão bem conservados e deve demorar um pouco pra gente pensar em trocá-los por
uma dentadura!”
No mês passado, quando fui ao
médico, este já foi mais direto, cruel até. Depois de analisar meu prontuário e
os resultados de um exame que pediu, ele me restringiu certos alimentos, recomendou
outros e disse: “Daqui pra frente, meu caro, as coisas só vão piorar pra você!”
Ri sem graça da situação e respondi que quero experimentar essa piora, sim, mas
que ela vem pra todos, inclusive pra ele.
Fora esses perrengues da saúde,
toco a vida com a simplicidade de um matuto. Em casa cuido de minha
companheira, de meus cães e, mais ou menos, do meu quintal. Não vejo televisão
(que nem tenho) e evito ler notícias ruins. Tenho um fogão a lenha fumacento,
que acendo de vez em quando para cozinhar feijão e mandioca. Ah, gosto de fazer
doce também, mas tenho evitado a sacarose. Neste momento, o fogão já está sem
as labaredas que se veem na foto lá em cima, mas a cozinha está quentinha e
meus cãezinhos dormem tranquilamente.
Concluindo, quero envelhecer com
a liberdade de quem não tem a preocupação de agradar, é espontâneo em todas as relações
e não tem o ímpeto de aborrecer quem quer que seja.
Quero que a minha felicidade seja
como uma brisa, que passe por mim e vá por aí, sem que força alguma possa detê-la.
FILIPE