Dia desses houve uma discussão bastante acalorada no grupo de whatsapp de minha família. Ah, é preciso destacar uma coisa: o “Irmãos Moura Lima” tem onze membros, o que faz desse grupo um gigante do gênero “irmãos”. Como em qualquer grupo, no nosso há aqueles que publicam industrialmente, há quem pouco aparece e há quem tenta falar e nunca é ouvido. Acho que estou nesta última categoria, porque ninguém dá bola para as minhas mensagens.
Dessa vez, a fervura se deu
devido a uma provocação que fiz. O texto bíblico do dia era sobre um personagem
emblemático do Antigo Testamento: Jefté.
Lendo aquela passagem bíblica, fiquei confuso: “Como pode um sujeito
fazer um pacto com Deus para destruir uma comunidade inteira, no caso a dos amonitas...”
Segundo a Bíblia, Jefté teria
sido abençoado por Deus para vencer os amonitas, mas sob a promessa de oferecer
em sacrifício a primeira pessoa da qual se acercasse na volta para casa após
seu triunfo. Aconteceu que, vitorioso, ele volta para casa todo pimpão, cheio
de novidades para contar à sua esposa, servos, sobrinhos, cunhados... (ah, ele devia
ter ao menos um cunhado, senão essa história não ficaria boa). O problema é que,
chegando à casa, nem sobrinho, servo ou cunhado quis saber de Jefté. Quem
partiu a seu encontro, assim que ele foi visto ainda lá no morro, antes de
abrir a porteira, foi sua filha. O homem estremeceu, porque teria que cumprir a
promessa, e, nesse caso, sacrificaria sua única filha. A história é mais ou
menos essa e se alguém quiser detalhes, veja lá na Bíblia; está no ‘Livro dos
Juízes’.
Aqui, no entanto, quero escrever
sobre meu “perrengue” com a família, porque eu quis dar uma de esperto no grupo
‘Irmãos Moura Lima’, fazendo uma postagem, e me dei mal. “Quero que alguém me
explique a passagem bíblica de hoje, pois está escrito que Jetfé [sic] devastou
20 aldeias em nome de Deus”, provoquei e ajuntei: “E vou cobrar isso!”
Já acostumado ao conforto do
abandono – ninguém se importa com o que digo nem com meu silêncio –, dessa vez
foi diferente. Um irmão me deu um pequeno chacoalhão; depois outro entrou um
pouco mais firme: “Você está interpretando com a cabeça de hoje algo que foi
escrito há mais de dois mil e quinhentos anos!”. Eu ainda tentava me equilibrar
após essa “canelada”, quando veio um disparo mais forte de outro irmão: “Você
parece ter preguicite de ler: pega o trecho
de um texto e já quer tirar conclusões. Vá à fonte e leia o texto inteiro!”
É... apanhei e, em vão, tentei
argumentar. Mas aprendi alguma coisa. Aprendi que Jefté não era um “miliciano tosco
e covarde” como alguns por aí. Aprendi também que os amonitas não eram uns “anjinhos
azuis” como eu supunha, e sim um povo cruel, fruto de uma relação incestuosa de
Ló com suas filhas.
Finalmente, aprendi que o Antigo
Testamento deve ser lido de forma muito cuidadosa, porque ele não é um livro de
fábulas.
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