Não, eu não conhecia “volume morto”. Conheço, desde sempre,
“peso morto” – algo imprestável e que nos atravanca. Alguns “pesos mortos”
obstruem o meu caminho, mas melhor não citá-los. Há também arquivo morto, uma
seção onde se guardam os documentos antigos, alimento dos historiadores e de ácaros.
Ângulo morto eu conheci quando ainda envergava a farda verde-oliva, e se trata
de uma região escondida do campo de visão. Quando se está numa elevação no meio
da mata e se avista outro morro, o vale escondido compõe o tal ângulo morto. Se
há ângulo vivo, não fiquei sabendo, pois os instrutores militares não me
apresentaram.
Mas o assunto de hoje deveria ser somente “volume morto”. Da
primeira vez que ouvi essa palavra fiquei desconfiado, pensando ser algo ruim.
Mas não. É o volume morto da Cantareira que tem matado a sede de muitos
paulistas durante esta crise hídrica – ou seca, para não usar essa expressão
besta, pretensamente glamorosa. Mas, quando o tal volume morto já começava a
morrer, eis que o governo paulista – que não chega a ser um “peso vivo” –
descobre, nas suas soturnas explorações, mais um “volumoso defunto”. Com essa
nova reserva (meio barrenta, malcheirosa, mas água) e as estivais “águas de fevereiro”,
o povo do novo semiárido poderá atravessar o próximo estio – que promete ser
penosamente longo –, até que este rico estado resolva investir em reúso,
cisternas ou dessalinização, como há tempos já fazem os israelenses.
A informação também tem o seu
volume morto, algo quase inacessível. Mas para alcançá-lo, é necessário descer
aos abismos, cavoucando sites, jornais impressos, televisivos e radiofônicos.
Somente assim pode-se ficar sabendo pormenores do envolvimento de um grande
banco (HSBC) em esquema internacional de lavagem de dinheiro. O HSBC é ligado às
famílias Safra e Andrade Vieira, que, por sua vez, são ligadas aos
grãos-tucanos paulistas. Aquele banco, que tem filial em Genebra, lava qualquer
dinheirinho. Seja do rei de Marrocos, narcotraficantes mexicanos ou de brasileiros
corruptos. E fica branquinho o danado.
Colunistas da Folha de S. Paulo,
dentre os quais Vladimir Safatle e Kenneth Maxwell, informaram recentemente que
mais de 500 bilhões de reais passaram pela filial suíça do HSBC num intervalo
de tempo inferior a cinco meses. A notícia brotou de um furo no “casco” feito por
um funcionário dedo-duro daquela instituição. Muito mais, porém, repousa nos
subterrâneos do sistema financeiro internacional. Segundo pesquisadores, a
corrupção consome cerca de 5% do PIB mundial. Isso significa que, a cada ano,
1,5 trilhão de dólares vão para o “volume morto” de paraísos fiscais, como o
HSBC, ou para bolsos mais modestos, mas nem por isso limpos.
Ainda sobre o HSBC: O Brasil
aparece como sendo o nono país que mais operou lavagem naquele banco, com
milhares de brasucas envolvidos. Mas nenhum nome foi identificado na mídia, por
quê? Temos competentes Ministério Público, Judiciário e TV Globo, que juntos, justa
ou injustamente, desancaram uma nuvem de petistas. No entanto, um tumular
silêncio cobre a plutocracia tupiniquim afundada nesse lamaçal.
Parafraseando George Orwell no
clássico “A Revolução dos Bichos”: “No Brasil, todos são iguais, mas alguns são
mais iguais do que os outros”.
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