O Poder estava “dominado pela senzala
corrupta’’, então o “povo do bem” movimentou-se febril, ocupando ruas e praças,
batendo panelas ou o que delas sobrou de tão amassadas. E o Poder pôde,
finalmente, ser recuperado por uma “legião de anjos bons”. Agora, sob o lema
“Ordem e Progresso” – um “achado publicitário” de fazer inveja em Washington
Olivetto – a casa-grande pôs de volta o Brasil nos ”trilhos”. O fato de o “presidente-bufão”
ocupar o topo na lista da Lava Jato, com 43 citações e, numa irônica inversão de
algarismos, seu homem de confiança aparecer com 34 citações é apenas um detalhe.
Também é apenas detalhe o fato de o ministro da Justiça ter chupado trechos da obra
jurídica de um espanhol, até porque “quem não cola não sai da escola!” Mas, cá
pra nós, que coisa feia, hein?! E o cara ainda vai vestir a toga de juiz da
Corte Suprema, vai julgar autoridades federais...
A ficha de serviços desse pretenso
membro do STF é robusta. Quando titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado
de São Paulo protagonizou cenas de truculência contra movimentos sociais, mas
não só. Quando um hacker, metido à besta, cismou de xeretar os arquivos digitais
da ‘mãe do Michelzinho’, o ‘pai do Michelzinho’ não se fez de rogado. Com a prerrogativa
de vice-presidente da República acionou o governador paulista e este pôs a
estrutura da Secretaria de Segurança a serviço do amigo. O então secretário mostrou-se
competente, montando uma força-tarefa com cinco delegados de polícia, três
peritos e vinte e cinco investigadores, e a missão foi cumprida com presteza. Em
apenas seis meses, o malandreco fora
laçado, julgado e condenado, cumprindo pena de cinco anos e dez meses numa
gaiola de segurança máxima. Mas cá para as bandas da senzala, as coisas não
funcionam tão bem assim. De cada cem homicídios, noventa e tantos não são solucionados
e criminosos nem sequer são identificados. Ou seja, menos de 10% dos homicidas
são condenados, e se a vítima for pobre é quase certa a impunidade.
Mas as lambanças do atual inquilino
planaltino não têm destaque na grande mídia. Um exemplo disso é a retomada do desmatamento
em grande escala. As motosserras estão fazendo um barulhão danado lá pelos
lados do Norte onde extensas áreas amazônicas são desflorestadas a fim de abrigar
o agronegócio. Desde o início da “gestão temerária” mais de mil quilômetros quadrados
de mata já foi abaixo – área superior a três municípios de Guiricema, minha
terra natal, ou quase setenta por cento do município de São Paulo. É, os
ruralistas estão recebendo a parte do butim pelo seu “labor” em favor do
impeachment. Além disso, reservas indígenas serão “repensadas” e a Floresta
Amazônica deverá ser descontinuada por rodovias – uma fatalidade para a fauna,
que requer grandes extensões de mata fechada e contínua.
Segundo a sabedoria árabe, “os
cães ladram e a caravana passa”. Aqui, porém, “o comboio maldito segue
tranquilo enquanto a matilha dorme”. Até quando?
FILIPE