Sofro de uma síndrome que vez ou
outra acomete cronistas de verdade. Monstros da nossa literatura contemporânea
como Cony, Hatoum e Antônio Prata já comentaram sobre eventuais dificuldades em
começar um texto. Faltando-lhes inspiração, a primeira frase não sai.
Escreve-se algo ruim, que logo é substituído por coisa pior e o texto não flui.
Adélia Prado confessou ter ficado “abstêmia” por cinco anos. Não conseguia ir
além da primeira frase de um livro que escreveria e procurou tratamento. Então
eu deveria ser internado, pois há mais de cinquenta anos que...
Já
que me falta assunto, falarei sobre qualquer coisa. Aproveito para despachar
algum incauto, se por desventura aqui se aportou meio desprevenido, e
aponto-lhe o caminho do Facebook. Lá
as coisas são divertidas, embora eu não entenda nada daquela barafunda de
imagens e palavras sob um cortinado azul. Não poucas vezes, uma solicitação de
amizade é por mim preterida devido à inabilidade com o manuseio das
ferramentas. E enquanto as massas se divertem naquela iluminada babel, adentro
o gélido e sombrio porão de meus delírios a que frequentemente se torna este
blog. Daqui, quero mirar o povo, não o do “feice”, mas o que está nas ruas a
protestar.
O que querem
esses desocupados berrando palavra de ordem como: “Não vai ter Copa”, se todos
são fanáticos por futebol? Esse mesmo povinho já saiu às ruas para comemorar –
quando se anunciou a indicação do Brasil como pais-sede – “com churrasco e
cerveja”, conforme observou um cronista esportivo.
Penso que o
povo deve ocupar ruas e praças celebrando ou protestando, mas é preciso que se
tenha clareza do que se faz. “Diretas
Já” e “Fora, Collor” são episódios emblemáticos na história recente do país.
Mas, “Não vai ter Copa”... Quanta burrice! Muitos daqueles boçais, que gritam
por “mais escolas”, nem sequer gostam de estudar. A sua ignorância se acentua
quando afirmam que o governo federal despejou bilhões na construção de
estádios. Essa lorota vem de um maledicente grupo político que, por razões meramente
eleiçoeiras, torce contra a Seleção, levando a reboque as incultas massas a
torcer contra o Brasil.
Poucos sabem
que a participação do governo federal nessa festança, embora alta, é inferior a
quarto do total. Mais de 75 por cento, portanto, são de responsabilidade de
governos estaduais e municipais, bancos, clubes e outros. A cota do governo
federal – alvo da insana ira – é empregada em infraestrutura aeroportuária e de
mobilidade urbana. Que mal há em fazer algo que melhore a vida do Zé, que
passou a “andar de avião” e quer desfrutar de algum conforto?
Sei que estou cansativo, mas encerro com mais
provocação. Nesta terra, de Vera e Santa Cruz, temos o seguinte: quase 16
milhões de “desempregados”, que não querem trabalhar; em um milhão de vagas
bancadas pelo Prouni em universidades, 30 por cento estão ociosas devido ao
desinteresse de bolsistas; mais de 15 milhões de marmanjos, entre 15 e 29 anos,
nem trabalham nem estudam, formando a tribo dos “Nem-Nem”. É pouco? Talvez. Mas
por enfado ou preguiça, não quero continuar e fico por aqui. Hoje estou mal.
FILIPE