Eu estava num campo de pastagem e
mata, numa região montanhosa, acompanhado de um irmão e uma moça, que não
consigo lembrar quem. Em certo momento, sem que percebêssemos a tempo, um touro
se desgarrou do rebanho e partiu em nossa direção. Sem saber o que fazer nem se
haveria algo a ser feito, corri morro acima, deixando para trás o casal. O
touro me escolheu, gostou de mim, e quanto mais eu corria, mais ele se
aproximava, chegando a bafejar o vento quente de suas ventas nas minhas costas.
A custo e extenuado, cheguei a um sítio e percorri sua cerca até uma abertura
por onde entrei. O touro me seguiu, entrando logo atrás. Continuei minha
carreira à beira da cerca de arame farpado, cujos fios extremamente esticados
faziam-na intransponível. O touro continuava no meu encalço e eu já não tinha forças
para escapar de suas guampas. De repente, vi num ponto da cerca um pequeno vão por
onde passei para o outro lado, rolando no chão. Foi a conta de eu passar para que
o marruá chegasse. Ele parou, me fixou bufando e começou a forçar a cerca cujos
mourões estalavam. Pensei: se ele der a volta para me pegar, eu passo por baixo
da cerca e fico livre novamente. Mas se ele resolver pular ou quebrar a isso
aqui, vai me pegar e estarei morto. Mas o touro deve ter se compadecido de mim,
porque me deixou de lado para continuar sua maratona morro acima.
Desci e encontrei meus
companheiros, que pareciam se divertir com minha desdita. Olhamos para cima e
avistamos ao longe o touro, que continuava subindo a montanha, mugindo pavorosamente.
Um pouco abaixo havia uma mata fechada com umas incrustações rochosas. Entramos
naquela mata, descendo por uma trilha estreita entre rochedos. Eu estava à
frente do grupo e minhas pernas bambearam quando me deparei com outra fera.
Dessa vez não foi um touro, antes fosse, mas um felino enorme, colossal. Visto
de perto, e eu estava perigosamente próximo daquele animal, pensei que fosse um
leão. Por óbvio não era leão, mas talvez uma onça-parda. O bicho estava deitado
na trilha por onde passaríamos. Parecendo sonolento, ele nos olhou sem curiosidade
e sem se mover. Havia perto de mim uma pedra, que fiz menção de jogar naquele
monstro, mas fui desaconselhado a fazer isso. Seria temerário agir assim, mas o
que nos resta se a morte é iminente?... Ficamos parados, pensando no que fazer,
por uma eternidade de alguns segundos. Voltamos pela mesma trilha e tentamos
nos esconder numa maloca de pedra para ver como lidaríamos com aquela situação.
Mal chegamos ali e a onça já apareceu para um ‘acerto de contas’. Ela se posicionou
na entrada da maloca, pronta para nos atacar, e nós não tínhamos por onde
escapar. Naquele momento eu só pensava em como deveria ser doído morrer
dilacerado pelas mandíbulas de um felino. Meu pensamento era macabro: por onde
ela começaria o banquete, que parte de meu corpo ela comeria primeiro?... Mas eu
tinha nas mãos um pequeno bastão e decidi lutar com ela. Sem alternativa, armei
o porrete para lhe dar um golpe, mas ela se antecipou e minha ‘arma’ caiu.
E foi justamente nesse momento
que acordei. Ufa!
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