Hoje meus pais celebram as
bonitas ‘’Bodas de Pérola Negra’’, quando são completados 65 anos de vida
conjugal. Papai pensou que fossem “brilhantes” e eu arrisquei “nogueira’’. E
falei para meu pai: “Se não forem ‘bodas de brilhantes’, vocês brilham do mesmo
jeito”. Depois disso, consultei a WEB e dei a sentença: “Bodas de Platina!”. A
partir daí, todo garboso de minha sabença, comecei a espalhar, dizendo ser de
‘platina’ as bodas de meus pais. Mas o Mano Véio abriu o dia de hoje, felicitando
meus pais pelas “bodas de pérola negra”. Li aquilo e pensei: “Meu irmão está
inventando...”. Fiquei quieto, e não convencido, fiz outra pesquisa. E não é
que o Mano Véio tem razão?... Se não fosse ele, eu teria dado um título errado
para esta crônica.
Meus pais, nessa longa trajetória
de vida compartilhada, viveram momentos difíceis, de divergências e até de
conflitos. Muitas vezes, a causa dessas dificuldades era de natureza
financeira. Papai e mamãe, sempre muito pobres e adoentados, tinham que dar
conta da família, que crescia exponencialmente: ano sim, ano não, um bebê no
ninho! Foram 14 gestações e 13 nascimentos. Hoje somos 11 irmãos, porque houve
um aborto e dois morreram na infância.
Com uma ‘penca’ de filhos para
criar, a vida de meus pais não poderia ser assim tão florida mesmo. Mamãe tinha
as demandas dela e papai é quem fazia as contas. E os filhos cresciam e teriam
que ser alimentados e educados. O sistema era antigo e não sei se precisa
explicar aqui, mas em casa, a peraltice era corrigida à base de ‘beliscão’ (da
mamãe) e de currião (o cinto do papai).
Bom, eu não recomendo isso, mas parece que funcionou para nós, porque meus
irmãos são todos muito bem-educados. De minha parte, se não sou uma figura tão simpática
e polida, a culpa não é dos meus pais, mas exclusivamente minha.
Certa vez, uma pessoa muito
querida teve a infelicidade de me dizer isto: “Seu pai não tinha dó da sua
mãe... Ela é doente e ele teve com ela esse montão de filhos!” Antes de responder,
pensei: “Alguém está sobrando lá em casa... Será que sou eu quem não deveria
ter nascido?!...”. Mas mudei a linha de defesa e disse à “desafortunada” mulher:
“Então a senhora acha que minha mãe tem filhos demais, né?! Mas está muito enganada
na sua avaliação, pois eu gostaria de que todas as mulheres do mundo fossem tão
felizes como a minha mãe é feliz!”
Penso que o amor esponsal, aquele
que une o casal, deve ser, antes de tudo, um amor fraterno. E é mais ou menos assim
que vejo meus pais ao longo dos anos: ele sempre ‘quase paternal’ para com
minha mãe, enquanto ela sempre lhe devotando um ‘amor quase filial’. Em
síntese, se o amor é fraterno, o casamento pode ser eterno.
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