A Maria chegou! Mas que moça
corajosa!...
Maria, você é muito bem-vinda,
mas não pense que terá vida tranquila aqui, porque nós bagunçamos seu planeta.
Fizemos as nascentes secar, a temperatura subir, as geleiras derreter. Também
erodimos o solo, queimamos as matas e acabamos com tudo, Maria. Que vergonha eu
sinto de você, menina!
É, Maria, pelo que se vê, a
situação não está muito boa para quem chega desprevenido – eu diria que está é
péssima. A casa está mesmo muito bagunçada. Há coisas fora do lugar, coisas
sobrando e coisas faltando. O nosso jardim, Maria, está sem flores e a nossa horta,
farta de agrotóxicos, está falta de verduras. Os bichos, Maria, estão sendo
extintos e quase não se veem mais abelhas por aqui. Mas os gafanhotos estão
chegando... Sim, há gafanhotos e há diversas “etnias” de mosquitos – alguns até
com “pedigree”, como o Aedes Aegypti. Aqui tem ‘Covid’, tem ‘corona’ e tem muita
tristeza, Maria. A coisa tá feia mesmo!
Perdoe-nos, porque fomos
egoístas, predatórios e não pensamos em você nem nas novas gerações. Usamos
adornos de ouro, de pedras, de pérolas e de marfim. Tudo isso vem da natureza,
cada vez mais humilhada e mutilada pela nossa cobiça. Você não vai usar joias,
né Maria?... Prometa que não, porque ninguém precisa usar joias.
Maria, somos 210 milhões aqui no
Brasil, alguns muito ricos, outros remediados, mas cerca de dez milhões de
brasileiros vivem com menos dez reais por dia. E agora estamos sofrendo com uma
pandemia, que mata mais de mil pessoas diariamente. Os mais pobres são os que
mais sofrem e o Estado foi obrigado a dar um auxílio emergencial a eles. Mas a
terça parte da elite resolveu furar a fila, solicitando esse auxílio também, e
não é que a maioria conseguiu?! Estamos
encurralados, Maria. E ainda tem a
violência urbana, mas deixa isso pra lá.
Mas preciso falar dos indígenas, Maria,
um povo que habita as matas e que está sendo exterminado por bala, fogo, mercúrio,
motosserra e pelos correntões. “Correntão”, Maria, é algo abominável nas
florestas e poucos sabem o que é isso. Agora os nativos sofrem com a
pestilência também, morrendo como moscas, sem qualquer assistência.
A política, Maria, tá uma
tristeza danada, mas não vou falar dela aqui. No futuro você vai saber pelos livros
de história. Se houver livros, se houver história e se houver futuro.
Pode não parecer, Maria Eugenia, mas
hoje estou muito feliz porque você chegou. Feliz e preocupado.
FILIPE (Monte Alegre
do Sul, 09/07/2020)
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