sexta-feira, 16 de junho de 2023

VELHICE E LIBERDADE


 

“Na natureza há três sexos: sexo feminino, sexo masculino e sexagenário”, disse certa vez o grande Millor Fernandes, que certamente tinha vivência e experiência pra fazer tal afirmação.

Sexagenário que sou, ainda não estou preocupado com isso, mas percebo que a velhice não é aquele fantasma que me assombrava a infância, a adolescência e parte da maturidade. A idade nos limita fisicamente, mas nos liberta de muita coisa. De uns tempos para cá, por exemplo, sou mais seletivo em meus contatos e meu círculo de amizade tem sido mais restrito – e muito mais sólido também. Mas a velhice não pede licença e chega empurrando a porta. Explico.

Dia desses fui ao dentista e após avaliação minuciosa de meus dentes, ele disse: “Seus caninos e incisivos estão todos muito bem preservados, mas com pequena retração da gengiva; já os molares sofreram algum desgaste, mas de natureza fisiológica. Tudo isso está dentro da normalidade”. Em outras palavras, o dentista me disse: “Você está velho, mas seus dentes estão bem conservados e deve demorar um pouco pra gente pensar em trocá-los por uma dentadura!”

No mês passado, quando fui ao médico, este já foi mais direto, cruel até. Depois de analisar meu prontuário e os resultados de um exame que pediu, ele me restringiu certos alimentos, recomendou outros e disse: “Daqui pra frente, meu caro, as coisas só vão piorar pra você!” Ri sem graça da situação e respondi que quero experimentar essa piora, sim, mas que ela vem pra todos, inclusive pra ele.

Fora esses perrengues da saúde, toco a vida com a simplicidade de um matuto. Em casa cuido de minha companheira, de meus cães e, mais ou menos, do meu quintal. Não vejo televisão (que nem tenho) e evito ler notícias ruins. Tenho um fogão a lenha fumacento, que acendo de vez em quando para cozinhar feijão e mandioca. Ah, gosto de fazer doce também, mas tenho evitado a sacarose. Neste momento, o fogão já está sem as labaredas que se veem na foto lá em cima, mas a cozinha está quentinha e meus cãezinhos dormem tranquilamente.

Concluindo, quero envelhecer com a liberdade de quem não tem a preocupação de agradar, é espontâneo em todas as relações e não tem o ímpeto de aborrecer quem quer que seja.

Quero que a minha felicidade seja como uma brisa, que passe por mim e vá por aí, sem que força alguma possa detê-la.

FILIPE

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