Desacorçoado. Assim me sinto perante a juventude, de quem Luiz Melodia disse ser ‘transviada’. Não sei se o poeta tinha razão, mas um desalento ameaça nosso futuro. Para onde descaminham essas massas?
Lido com jovens de classe média
baixa desde “tempos imemoriais” e cada vez mais me surpreendo. Afora as
exceções, das quais me nutro, muitos são tíbios nos estudos, lassos nos
costumes, uns desapiedados.
Dia desses na sala de aula, ouvi algo
apologético à pedofilia. O rapaz – que atraía para si a curiosidade e admiração
de muitos colegas – ao ser repreendido, retrucou com júbilo: “Sou de menor,
o que vão fazer comigo?...” “Mas você já responde por isso, pois tem quase
dezoito anos!...” Tentou continuar, mas, na possibilidade de o caso ser levado adiante,
aquietou-se.
Para muitos, as aulas são maçantes,
desinteressantes, enfadonhas. Alguns pedagogos (demagogos) costumam
responsabilizar os professores pela má gestão das aulas, resultando no
insucesso da aprendizagem. Essa, porém, é outra questão que não quero abordar
agora. Já estou suficientemente agastado e este texto não precisa de mais
tempero.
No País, todos os anos gasta-se
ao menos um bilhão de reais com merenda escolar e material didático. Mas carteiras
são quebradas, livros amarfanhados, cadernos desfolhados; lápis, borrachas,
réguas e canetas encontram-se aos borbotões, abandonados ou destruídos. Na merenda, pratos de comida – com carne, que
muitos nem têm em casa – são jogados no lixo. Ah, tem também as maçãs. Conheci
maçã na infância, mas nas páginas de “Branca de Neve”; e na Bíblia, onde se
conta a história de Eva, aquela glutona, que irritou o Criador, comendo maçã
proibida e corrompendo Adão. Por culpa daqueles dois, fomos expulsos de uma
“paradisíaca chácara”, e hoje somos obrigados a ralar para sobreviver. Que
casalzinho trouxa! Mesmo embora associada à maldição, costumo comer maçã. De
vez em quando, pego uma do chão, já mordida por um daqueles “pestinhas”, lavo,
recorto a parte ferida e aproveito o restante.
As provas. Estas são elaboradas,
impressas e aplicadas. O mano pega,
não lê e devolve em branco. “Não vai fazer?” “Ah, eu num
sei, fi. Vô fazê uma coisa que num sei... Sai fora!” “Mas como não? Foi
ensinado...” “Cê num ensina direito, fi...
Suave!” “...” Numa dessas avaliações, propus algo assim: “Dona Maria foi à feira e comprou 5 peras (não escrevi maçãs, porque
jogam fora!), a um real e sessenta centavos cada uma, trezentos gramas de alho,
a 17 reais o quilo e pagou a compra com uma cédula de vinte reais. Determine o
troco.” É conta que o ‘seu Zé da feira’, que não completou o primário, faz mentalmente
e a todo instante. Mas o meu aluno do Ensino Médio, na escola há mais de dez
anos, não conseguiu fazer!
Tem mais. Recentemente, num protesto
contra o ‘temeroso’ e suas reformas, não havia meia dúzia de jovens. Além deste
“ranzinza” que vos aporrinha e outros poucos, estava o Tokinho, o meu velho cãozinho,
que não entendeu direito, mas gostou da passeata. Logo o Tokinho, que já nasceu
aposentado, saiu de sua bacia e foi lutar pelos que desistiram da luta.
Jovens, acordai!
FILIPE
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