sexta-feira, 1 de março de 2019

VIOLÊNCIA JUVENIL


Hora do recreio. Entro na fila da merenda na escola em que trabalho. Nas mãos, tenho um jornal com artigo de Suzana Herculano-Houzel, uma renomada neurocientista que deixou as universidades brasileiras para se radicar nos EUA, onde desenvolve pesquisas em sua área. Seu último texto versa sobre algo que domina como poucos: isquemia cerebral. Tiro os olhos do jornal e tento enxergar o balcão de serviço da cozinha, que continua longe de mim. De uns tempos para cá, tenho observado um fenômeno que talvez desperte algumas mentes mais argutas, como às de sociólogos: enquanto a fila da cantina da escola encolhe cada vez mais, a da merenda espicha consideravelmente. Parece que a grana da moçada está miúda ultimamente. Volto à leitura.

De súbito, algo faz meus olhos se deslocarem do jornal para a “zona de dispersão”, onde pratos cheios de macarrão com molho e frango desfiado tomam rumos diversos. Uma professora esbraveja com alguém que eu não conheço, e que parece não ouvir ou não querer escutar a reprimenda. Em pouco tempo eu soube do que se tratava. Um rapaz, de quase dois metros, espancava um garoto com dois terços de seu tamanho. Em vão foram os apelos para que ele deixasse o moleque, que, estirado no chão, era socado com volúpia diabólica. A custo, o algoz, um tipo ‘mano‘ enfiado num moletom com capuz, foi retirado pela professora e conduzido à direção. A vítima, que nem pôde merendar, foi para uma sala onde permaneceu à espera dos pais, que logo chegaram para tomar as urgentes e necessárias providências contra o agressor.

Outro caso, infelizmente ainda mais grave do que aquele, aconteceu noutra escola do interior paulista. Um professor com mais de sessenta anos foi covardemente agredido por um adolescente. A imagem que vi na tela de um celular era a de um homem simples, como um lavrador, mostrando a face lacerada e a camisa ensanguentada. Provavelmente aquele homem terá entrado tardiamente no magistério, tentando melhorar de vida ou realizando um sonho antigo. Seus olhos aflitos expressavam algo bem mais do que tristeza. Havia neles indignação, impotência, frustração.

Ontem, voltando do serviço e descendo por uma rua, próximo a um cruzamento, uma bicicleta passou rasante e velozmente por mim na minha calçada. Não mais do que um segundo foi o tempo que me livrou de um atropelamento com possíveis fraturas. Olhei para o ciclista, que já ia distante, e vi um moletom cobrindo um corpo comprido com uma cabeça também encapuzada – como o agressor do pátio da escola.

Enquanto a violência grassa forte nos pátios, corredores e salas de aulas, o atarantado ministro colombiano está preocupado com ‘hino nacional’ e demais símbolos pátrios, que nem ele sabe para que servem.

FILIPE

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