O ADEUS DE PRETINHA
Morreu
Pretinha. A cadelinha que sempre, num misto de paciência e ansiedade, nos esperava;
que alegremente nos recebia; que se entristecia com nossa ausência. Morreu
idosa, doente, desdentada, mas não abandonada. Um tumor lhe invadiu as
entranhas cegando-a, tirando-lhe a audição, tolhendo-lhe os movimentos e
fazendo com que se locomovesse às apalpadelas.
Pretinha
gostava de passear. Pela manhã, bem cedo, ela me convidava para uma breve
caminhada. Ainda escuro, caminhávamos pelas ruas desertas, despidas de
automóveis e de gente. Enquanto eu me dirigia ao Pai em minhas preces matinais,
ela se entretinha com coisinhas que só mesmo eles, os desambiciosos cãezinhos, são capazes de valorizar. Num trote miúdo,
dava breves paradas e olhadelas para trás para se certificar de minha presença.
O rabinho balouçante, tal como uma batuta, parecia ditar o ritmo das passadas
vergando-se de um lado para o outro.
Houve tempos em
que Pretinha fugia de minha companhia. Gostava de caminhar só. Caso eu a
seguisse, tal qual uma adolescente mimada, fazia-se rebelde, e corria a escapar-me
às vistas. Ultimamente não. Pretinha não mais saía só. Aberto o portão, dava
uns passos em direção à rua e voltava. Olhava-me fixamente, dava meia volta em
direção à rua, parava, olhava para trás como que dizendo: “Não vai? Vamos...
Sozinha eu não vou!” Quase sempre eu cedia aos seus reclamos. Nos últimos dias,
entretanto, ela não se animou mais a sair. Pior: mal saía do lugar em que se
encontrava, pois sempre havia uma parede ou um muro a lhe bordoar a cabeça. Perdera o senso de direção e a visão. Enfim, a intrépida
cadelinha, retratada neste blog sob o título de “PRETINHA”, deu adeus. Partiu
numa fria madrugada deste gélido outono. Fora sepultada sob uma roseira, ao
lado de Neguinha. Ficara ali, pois ali vivera boa parte de sua “centenária”
existência. Ainda, sob o olhar curioso de Pituka, fiz-lhe honras depositando
uma rosa junto ao seu corpinho.
Não, solitário
leitor, não me repreenda por eu tecer loas aos cães. Também não me censure nem
me acuse de transformar este espaço num “necrológio de canídeos”. Os canídeos
conquistaram um bom naco no meu mundo de preocupações, mas não somente eles. Os
hominídeos também se fazem habituée
destas páginas. Não dirá o leitor - se ainda o tenho por cá - que o assunto me
é escasso e por isso me ponho a escrevinhar frivolidades. Não são frívolas
estas reflexões, caro leitor, e não me falta assunto. Bem sabe que gosto de
falar mal das pessoas e este espaço é pródigo neste aspecto. E só pra nós
aqui: não falta gente querendo ouvir maledicências, não é mesmo?
Pois bem.
Preciso encerrar este necrológio com um panegírico aos cães: Nós, seres
humanos, mergulhados na mais profunda desumanidade, deveríamos aprender com
essas pequenas criaturas divinamente caninas o conceito de lealdade, desapego,
resignação e fidelidade. Se o homem
depositasse em Deus a mesma confiança que lhe é depositada por seu cão, o mundo
seria divinamente melhor.
FILIPE
NAS RUAS...
ResponderExcluirO que faz esse povo nas ruas?
Alguns sabem por que protestam;
mas a maioria não sabe o porquê de estar lá;
porque apenas querem participar desta “festança”.
Muitos deveriam ir para a escola, sobretudo os jovens;
se não querem estudar, deveriam trabalhar.
Não lhes faltam oportunidades;
mas é bom brigar contra políticos corruptos,
contra empresários que exploram a sociedade,
contra especuladores, os ladrões de sempre.
Agora chega.
Deixem as ruas para seus moradores,
porque eles sabem por que estão nas ruas.