Andei pesquisando e não encontrei a informação de que tanto preciso: Com
quantos anos, em que cargo e com que salário se aposentou o ministro Eliseu
Padilha?
Ficaria
muito agradecido se o próprio me informasse.
FILIPE
Fui ignorado pelo ministro-chefe da Casa Civil a quem ousei mandar o
e-mail acima, mas isso não me surpreendeu. O que me assombrou foi a súbita
indignação de uma boa alma, até então muito crédula da ‘nova ordem’ que se
instalou no país.
“Quanto tempo falta para você se aposentar?” – perguntei àquela mulher, uma velha conhecida.
“Tô contando nos dedos. Pra mim, faltam cinco anos... Cruz-credo,
num aguento mais esperar!” “É, mas talvez
falte mais tempo...” “Como assim, mais tempo?!...” “O novo governo vai mexer no
tempo de contribuição.” “Mas, pros
novos, né?... Pra nóis, os véio, num mexe mais não.” “Querem aumentar em quarenta por cento o tempo
de contribuição para todos. Assim, você terá que trabalhar mais sete anos, em
vez de cinco.” “Mas num pode...”
“Poder, não pode, mas você não sabia?” “Não! Eu vejo o Jornal Nacional todos os
dias e não vi nada disso...” “Ahn!...” Mordi a língua para não dar risada.
Esse assunto foi um despropósito. Após um dia inteiro na labuta, a
mulher estava esparramada no sofá – cansada, mas serena e feliz. Queria assistir
à tevê tranquilamente, mas alguém lhe estraga a tarde... E estraguei mesmo. Ela
se reposicionou no sofá, agora o rosto teso, ruborizado, e começou a vociferar
contra o governo. “Eu não aguento
trabalhar por mais tanto tempo. Já estava certa de que ia me aposentar daqui a
cinco anos...” E começou a despejar uma malcheirosa carga de impropérios. Por
pudor, não reproduzo suas palavras e as trocarei por algo próximo a parônimos. O
leitor que se esforce e me desculpe. “Mas
num pode..., buda baliu! Mas que filho
da luta! O que nóis vai fazê pra arrancar
esse fiado de lá?! (...)”
Estranhei o rompante de quem sempre esteve empolgada com o ‘temerário
interino’, mas arrumei um jeito de piorar a coisa e fiz a fervura levantar a
tampa da panela. “Tem uma saída”, eu disse. Ela arregalou os olhos, esperando consolo.
“O governo propõe, a quem não aceitar o aumento no tempo de serviço, idade
mínima de 65 anos para homens e 62 ou 63 para mulheres e você poderá escolher.”
Mal terminei e a pobre começou a tossir. Sua face, antes rubra, tornou-se
arroxeada. Mas não era de brabeza aquela tosse. Talvez cigarro, um golpe de ar
frio, sei lá..., brabeza é que não era. Saí dali ‘morrendo de dó’, coitada...
Eu, que me aposentaria ano que vem, terei que ralar ainda por sete,
talvez setenta, ou quem sabe setenta vezes sete anos! Muitos perguntam: “Já se
aposentou? Quando se aposenta?... Estou velho, mas sem exageros, por favor.
Outro dia, um trouxa passou de moto e gritou: “Oi, fessô, cê num morreu ainda?!”
Não morri, não recebi resposta do ministro, mas senti uma estranha
comichão de contentamento com a macabra notícia da reforma da Previdência
engendrada por Padilha, que o JN não deu e a Folha escondeu na última página.
Mas o povo bem que merece as traquinagens do “pai do ‘Michelzinho’”! Então, pra
que chorar?...
FILIPE
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