sexta-feira, 8 de junho de 2018

O PAPA CONTRITO


Vivemos um tempo de aguçada polarização ideológica com duas vertentes contrapostas: “gente do bem” versus “gente do mal”. Ironicamente, os autodenominados “do bem” se parecem mais malévolos do que seus adversários supostamente “do mal”. E de uns tempos para cá, aquele antagonismo histérico, que se estabelecera na seara política, migrou para a religião. É o que assistimos particularmente entre católicos, onde os ânimos estão cada vez mais exaltados. A CNBB e o Papa Francisco têm sido continuamente atacados pelas tais “hostes do bem”.

Chama atenção o episódio envolvendo casos de pedofilia no Chile, praticado por padre e acobertado por bispo. A pedofilia, essa pestilência putrefata incrustada na humanidade desde tempos imemoriais, também está presente na Igreja. E o clero católico, embora humano, tem o divino dever de ser exemplo para seus fiéis e jamais poderia condescender com o crime. Mas no caso do Chile, o Papa Francisco tem sido injustamente acusado de omissão. Houve até quem dissesse, em homilia, que “se fosse com João Paulo II, isso não ficaria assim!”, fazendo uma comparação deselegante e injusta desses dois grandes pontífices.

O fato é que, quando as primeiras denúncias de abuso sexual chegaram ao papa, ele não as acolheu de imediato. Mas assim que soube de sua veracidade, Francisco penitenciou-se publicamente, recebeu vítimas no Vaticano, convocou o episcopado chileno para esclarecimentos, escreveu uma carta ao povo daquele país pedindo perdão e prometeu apurar os malfeitos, punindo os malfeitores. Mais tarde, em visita ao Chile, o papa voltou a pedir perdão aos fiéis, expressando ‘vergonha’ e ‘dor’ – fato registrado pela televisão portuguesa (RTP). Mas os desafetos da Igreja falseiam a verdade, afirmando que o Papa Francisco fora pressionado pelas vítimas e, somente por isso, apresentou “pedido desculpas”.

Não é preciso ler ‘dois livros’ nem ter ‘vida eremítica’ para saber algo tão elementar na vida de um cristão católico. Primeiro: em seu pastoreio, um papa jamais age sob pressão humana, mas sempre sob ação do Espírito Santo – daí o dogma da ‘Infalibilidade’. Segundo: um protocolar pedido de desculpas não tem a força de um solene pedido de perdão.

Pois o magnânimo Papa Francisco, avesso a pressões humanas e divinamente inspirado, pediu perdão ao povo chileno. Que seja duradouro o primado desse abençoado pastor!

FILIPE

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