Muito já se estudou sobre a capacidade
que o ser humano tem para dominar a si, a natureza, os recursos naturais... e o
seu semelhante! A isso, convencionou-se nomear ‘inteligência’ e o homem se
autodenominou um ‘animal inteligente’. Há pouco mais de trinta anos, porém, o
americano Howard Gardner, pesquisador de Harvard, ficou famoso por propor a
teoria das Inteligências Múltiplas. Segundo Gardner, não há apenas uma, mas
nove inteligências. Pedagogos, esses mestres sem discípulos, amam referir-se as
tais ‘inteligências’ como também amam citar Gardner em suas falações. É chique
falar de assunto “top”, e muito mais chique é citar um autor “top” como aquele aclamado
cognitivista, que se tornou guru dos pedagogos e oráculo dos cursos de
pedagogia.
De minha parte, não tendo pisado
em Harvard, não sendo pedagogo nem possuindo sequer uma das ‘nove
inteligências’ enumeradas por Gardner, discordo desse premiado doutor. Atrevo-me
a dizer que não há ‘inteligências múltiplas’, mas ‘habilidades múltiplas’. Essas
habilidades até que poderiam ser numeradas de “1 a 9”. A desenvoltura no
cálculo, na dança, na fala, na escrita, nos idiomas etc. não são ‘inteligências’,
mas habilidades. Alguns sortudos têm várias delas – os tais “crânios”. Há,
portanto, quem pareça dominar apenas uma dessas ‘habilidades’, mas com profundidade
estonteante, e a estes chamamos de ‘gênios’.
Sem querer chocar o arredio
leitor, ouso afirmar que nossas habilidades vêm do ‘instinto’ e não da ‘razão’.
A capacidade de aprender não é exclusividade do homo sapiens, pois os animais costumam
nos fazer inveja nesse quesito – com a palavra, o joão-de-barro. E tem mais.
Tenho aqui uma modesta calculadora capaz de fazer, em menos de um segundo,
cálculos que ninguém faria ao longo de uma vida. Pois é... na execução de tarefas,
até as máquinas nos dão de “7 a1”!
Fui estudante por muitos anos, leciono
desde o século passado e durante esse tempo, convivi com pessoas muito
habilidosas, algumas geniais, mas poucas eu consideraria “muito inteligentes”. A
habilidade de calcular e de memorizar pode trazer fama e até fortuna. Mas a
reflexão, as indagações sobre os ‘quês e porquês’ da vida não suscitam olhares assim
tão generosos.
Ao longo da vida, talvez eu tenha
convivido com apenas duas pessoas de inteligência muito acima da média. Uma era
comadre de meus pais: mulher montanhesa, analfabeta e pobre, que conheci já idosa.
O outro era meu compadre: homem rural, de ‘muitos dias’, também analfabeto e
pobre. Mais adiante, pretendo escrever algumas linhas sobre esses dois
personagens.
Gardner talvez não saiba, mas com
suas “nove habilidades”, consegue-se apenas dar algumas respostas às muitas
aflições do cotidiano. Com inteligência, porém, é que se fazem as urgentes perguntas
e os necessários questionamentos sobre a vida e seus mistérios.
FILIPE
Nenhum comentário:
Postar um comentário