sexta-feira, 5 de junho de 2020

PEDAGOGIA OPRESSORA


“Bom dia a todas e a todos!” (que lindo!). Agora é assim que alguns pedagogos moderninhos, os tais especialistas em educação, se dirigem ao manso rebanho – nós professores. E ao final da parlação costuma haver ainda o indefectível “beijo no coração” (que dor!).

Deu para perceber que neste texto não serei indulgente com determinados atores da educação, mas prometo ser breve. Aqui estou criticando a “ditadura pedagógica” que oprime professores há décadas e quero provar no final desta crônica a desnecessidade de determinados saberes. Mas não vou atacar o patriarca Paulo Freire, a quem todo professor minimamente informado deve reverenciar.

Desde tempos muito antigos, nutro certa birra com a pedagogia. Pernósticos, alguns pedagogos gostam de usar expressões impactantes como ‘resiliência’ (a vedete do momento), ‘ressignificação’, ‘empoderamento’, ‘superação’, ‘protagonismo’ (juvenil e sênior), ‘mediação tecnológica’, ‘fase de letramento’, ‘aluno aprendente’, ‘aluno alfabético’, ‘espaço formativo’, ‘construção do conhecimento’ – este já fora de catálogo. E se algo não está funcionando a contento, um pedagogo que se preze dá logo o diagnóstico e envia a receita. Mas poucos são aqueles que tratam com carinho e respeito a Língua Pátria. Outro dia, uma especialista gastou meia hora para explicar a diferença entre ‘persuasão’ e ‘convencimento’ sem, contudo, convencer ou persuadir alguém. Por isso, parto da premissa de que um bom professor precisa ter conhecimento e bom senso; o resto é blablablá. Até porque grandes nomes da educação não eram pedagogos, mas advogados, engenheiros, escritores, poetas.

Fechamos esta semana fazendo o quê?... Ouvindo intermináveis e maçantes videoconferências de manhã e à tarde. Isso porque a Secretaria da Educação decidiu fazer replanejamento e determinou que não enviássemos atividades aos alunos durante a semana – um absurdo! Na contramão, mandei exercícios, mas fui impiedosamente ignorado pelos meus.

É claro que filhos e netos desses gestores não estudam em escola pública. Caso estudassem, eles não agiriam tão irresponsavelmente. Na cúpula da Secretaria da Educação de SP, eu pesquisei, tem advogado, economista, administrador e até pedagoga! Exceto esta, os demais nunca entraram numa escola pública para trabalhar. Esperar o quê, dessa gente?...

Explico agora por que é inútil a pedagogia dos escribas. Há anos, fiz uma prova que continha uma redação partindo de uma frase de “C. Vasconcellos”.  Eu teria que desenvolver todo o texto em cima do pensamento dessa pessoa, que eu ignorava, não sabendo se era homem ou mulher.  Então comecei: “Segundo Vasconcelos, (...)”. E assim escrevi pelo menos as obrigatórias trinta linhas, percorrendo às cegas um caminho tortuoso. Contudo, tive êxito e a nota da redação foi determinante para a minha aprovação. Depois, só por curiosidade, descobri que o misterioso personagem que me tirou a paz e me deu a vitória é Celso dos Santos Vasconcellos – um dos papas da moderna pedagogia.

Precisa dizer mais alguma coisa?...

FILIPE

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