sexta-feira, 5 de maio de 2023

A RÁDIO CULTURA DE AMPARO

 Publicado no jornal 'A Tribuna de Amparo' -- edição de hoje.

 

O que está acontecendo com a nossa Rádio Cultura?

 

É manhã de domingo. Ligo o rádio, que sempre esteve sintonizado na rádio Cultura de Amparo, mas preciso desligar porque a programação não é mais aquela que me fez ficar enamorado dessa emissora desde há muitos anos. Antes, aos domingos, havia música erudita bem no comecinho da manhã. Em seguida, uma sequência musical genuinamente brasileira fazia meu domingo pulsar até o meio-dia. Agora, não mais.

 

As manhãs de sábado também perderam o brilho musical na Rádio Cultura.  Às sete da manhã, havia um programa especial contando a vida de determinado ícone do nosso cancioneiro. Em seguida, a programação continuava em linha com o espírito da emissora, tocando sempre MPB no gênero raiz. O programa biográfico acabou e a sequência musical ficou desidratada.

 

Há tempos, por falta de sintonia com o programa e simpatia com o apresentador, deixei de ouvir a Rádio Cultura nas manhãs de segunda a sexta-feira. Mas as tardes me eram propícias, particularmente o programa das 17 horas, cujo apresentador, Marcelo Lari, é uma ‘reserva moral’ do rádio brasileiro. No entanto, e isso não é culpa do locutor, a seleção musical ficou bastante prejudicada desde a aposentadoria de Cecília Beltramelli, produtora musical que trabalhou na emissora por muitos anos. Com a saída daquela profissional, nomes como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco e outros titãs da cena musical brasileira foram postos no ostracismo, numa espécie de ‘macarthismo tupiniquim’ agora presente em Amparo.

 

Numa tarde dessas, tentei insistir no dial da Rádio Cultura, mas tive que desligar. Não pude conter a indignação ao ouvir (na minha rádio!) um pagodeiro... E desses aí, bem midiático!

 

Ah, raríssimo leitor, não me tenha por preconceituoso. Musicalmente talvez eu seja, mas aqui a minha intenção é defender um espaço que sempre privilegiou a autêntica MPB. Para quem gosta e quer ouvir pagodes, sertanejos universitários e que tais, há uma miríade de emissoras por aí – e eu não gostaria de que a nossa Rádio Cultura entrasse naquela seara.

 

Infelizmente — por ideologia, descaso, ignorância ou compadrio —, decisões erradas estão sendo tomadas e a nossa Rádio Cultura perde muito do elã com que tanto me seduzia para se tornar uma emissora como outra qualquer.

 

FILIPE

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