“Já falamos, há muito tempo, por
telefone. Na ocasião, eu lhe disse que passei a gostar de matemática devido ao
seu jeito de ensinar. Você foi a minha melhor professora nessa matéria.
Obrigado por isso. Estou dando aulas de matemática há 26 anos por "culpa"
sua, viu?... rsrsrs Boa noite!”
“Que bom que fiz alguma coisa
produtiva no decorrer da minha caminhada profissional e alguém se espelhou em
mim. Fico feliz em saber que alguém foi grato ao meu trabalho. Obrigada,
Filipe. Quando for a Guiricema, passando em Volta Redonda, para pra uma visita
e tomar um café comigo. Além de ter sido sua professora, acho que somos primos,
pois também sou Moura. Fique à vontade. Abraços.”
“Obrigado pelo convite, eterna
professora! Somos primos, sim. Meu pai já me dizia isso naquele tempo em que
fui seu aluno. Abraços!”
Esse diálogo, pelo Messenger, foi em 30 de março de 2018. Eu
estava fuçando no feice
e encontrei a dona Iolanda por lá. Após me certificar de que seria ela,
trocamos essas mensagens.
Antes, ainda no início da minha docência, telefonei para a dona
Iolanda. Naquela oportunidade eu lhe confessei meu carinho e admiração e disse
que sempre tentava me inspirar no seu trabalho. Ela ficou feliz e me orientou a
fazer concurso para efetivação a fim de adquirir estabilidade, desejando-me
sorte na carreira.
Esse “caso de amor” com a dona Iolanda começou em fevereiro de
1976, quando entrei na quinta série do antigo ‘curso ginasial’. Terminado o
‘curso primário’, fiquei numa “quarentena” de quatro longos anos fora da
escola. Eu queria muito voltar a estudar, mas eram muitas as dificuldades
financeiras e a matemática também me afligia. Eu tremia só de pensar em
expressões numéricas, e fiquei ainda mais espantado quando me disseram que
teria de lidar com as ‘temíveis’ equações. A coisa ia entortar pra mim, mas fui
em frente.
No primeiro dia, uma segunda-feira, quem veio pra dar a primeira
aula? Ela, a dona Iolanda! Grudei os olhos na professora. Eu não piscava. Tudo
o que ela dizia eu anotava e não perdia nada. Assim que a dona Iolanda entrou e
se apresentou, foi à lousa e pôs o título do livro que usaríamos. Ela disse que
o livro talvez não fosse barato, mas que poderíamos comprar um usado mesmo,
desde que as resoluções fossem apagadas.
Chegando em casa, falei com meu pai, e ele, através de alguns
contatos, descobriu que alguém tinha o tal livro. Saímos numa tarde, quase ao
anoitecer, e fomos à casa da Aurinha, filha de um velho conhecido dele. Ela já
estava na sexta série e queria vender esse livro. Chegando lá, papai conversou com
o amigo e a menina trouxe o livro pra gente dar uma olhada. Combinado o preço,
meu pai pagou e saímos dali muito felizes.
Em casa, meu velho pegou o livro e o folheou. Era uma obra da
coleção ‘Matemática Moderna’, de autoria de Osvaldo Sangiorge. O livro estava
numa situação bem deplorável, que nem capa tinha mais. Após manuseá-lo, papai
me devolveu e disse: “Tá tolo, sô! Essa tal ‘matemática moderna’ eu não
entendo, não. Na minha época, o livro de matemática trazia números; agora está
cheio de letras... Essa coisa de ‘achar o valor de xis’ me confunde todo!”
Embora decepcionado, ele não disfarçava a alegria de ver seu filho entrar para
o ginásio.
A dona Iolanda foi minha professora de matemática na quinta, sexta
e sétima-série; na oitava, foi a dona Maria Lígia – a quem devo uma crônica.
Contudo, foi a dona Iolanda que me afastou o medo da matemática e ainda me fez
tomar gosto por essa disciplina. Com essa professora, não aprendia quem não
quisesse. Ela era formidável.
Dias atrás, dando uma zapeada no feice, fiquei
paralisado ao saber que a professora Iolanda nos deixou. Ela partiu no dia 28
de maio deste ano. Eu sonhava revê-la. Mas agora... nunca mais!
À querida dona Iolanda, que estaria aniversariando hoje, deixo
aqui o meu ‘muito obrigado’.
FILIPE
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