Ele está aqui, mas não é sobre o Tiziu que vou escrever. O cãozinho acima foi encontrado numa rodovia há mais de
dez anos. Estava ferido, com sede, com fome e sangrando. Até merece uma
‘biografia’, mas não será desta vez. Todavia, por carinho e atenção, volto a
citá-lo no final da crônica.
O assunto aqui são as queimadas,
esse inferno a que se tornou parte considerável do país. Tenho evitado o
noticiário e sempre que posso mudo de assunto com as pessoas que abordam essa tragédia.
Mas não tem ‘escapamento’, como diria um velho conhecido, como se vê aqui.
Dias atrás, antes ainda de as
chamas calcinarem a exuberante vegetação das montanhas que circundam minha ‘aldeia’,
tive uma conversa meio amalucada com o funcionário da loja de materiais de
construção. Enquanto escolhíamos umas tábuas de que eu precisava e sem ter o
que assuntar, saí com esta: “Cara, essas queimadas são coisa de gente
criminosa. Tivesse eu algum poder, pegaria um caboclo desses, amarraria num
poste e o deixaria assim durante uma semana. Ele não passaria sede nem fome, porque
seria muita crueldade, mas teria que ficar abraçado ao poste durante sete dias,
sem trégua. Marmita pra almoço e pra janta além de umas garrafas com água não
lhe faltariam. Finda a pena, seria desamarrado
e solto, mas continuaria vigiado. Com pessoas assim, todo cuidado é pouco. Vai
saber...”
O rapaz sorria enquanto eu
falava, mas não me interrompeu. Quando terminei, ele já havia separado as
madeiras que eu compraria e, com elas, veio uma “aula” que eu não pedi. Professoralmente,
ele começou: “Você acha mesmo que tem pessoas pondo fogo no mato? Pois penso
que não. Outro dia ouvi uma explicação sobre essas queimadas. Pode ver que o
fogo começa sempre no alto do morro. É o seguinte. O sol está ficando cada vez mais
perto de nós, parece que está caindo, e isso os cientistas afirmam. Acontece
que, se o sol já está mais baixo e o morro é muito alto, vai ficando complicado.
E tem a gravidade. Você sabe que a gravidade no alto do morro é maior do que
aqui embaixo, né?... E assim, com o sol mais forte lá em cima e a gravidade
maior, claro que vai pegar fogo. É isso. Não tem nada de gente botando fogo no
mato não.”
Depois daquela explicação, fui ao
caixa e paguei as tábuas, mas não a aula, e saí bem desacoroçoado. Até desisti
da luminosa ideia de amarrar homem em poste.
Agora é a vez do Tiziu sobre quem
prometi voltar a falar. Primeiramente, eu precisava de uma imagem que pudesse
atrair o raro leitor para este texto e quis abri-lo com essa foto tirada ontem,
que foi o dia de São Francisco. Segundamente, o nome do cãozinho é uma
homenagem àqueles simpáticos passarinhos que, vítimas de agrotóxicos,
desapareceram desta redondeza.
Finalizando, sei que vou chocar
as almas mais sensíveis, mas preciso dizer que sinto mais falta dos bichinhos
do que de certas gentes. Isso soa antipático, deve ser até pecado, mas os meus sentimentos
não obedecem a regras nem cumprem leis. Ah, e os bichinhos não incendeiam o
planeta.
FILIPE
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