ALFABETIZAÇÃO DE PROFESSORES
Desculpe-me o
solitário leitor por eu fazê-lo entrar nesta pedregosa seara, que deveria ser
somente minha. Não me falta assunto – neste momento é o que mais tenho -, mas somente
o faço por dever de ofício. Explico:
A SEE – SP
convocou grande parte dos professores para um curso, com o objetivo de
humanizá-los e torná-los mais sensíveis e democráticos à nobre causa do bem
ensinar; ou de alfabetizá-los mesmo. Para tanto, a escola ficara desprovida de
seus mestres por alguns dias, e, “dão-lhes palestras!” Na avaliação da primeira
etapa desse curso, produzi a “pérola“ que se verá logo abaixo. Um colega,
talvez tocado por esses “ventos democratizantes”, decidiu ler o texto para os
presentes (uns cinquenta professores naquela sala). Mas a coordenadora do curso,
que até então era pura simpatia, aborreceu-se de súbito interrompendo a leitura
pela metade. “Nosso tempo é curto. Pare, por favor!” – disse ela, quase às
lágrimas, diante da insistência do orador em continuar, a pedido dos colegas.
PERNÓSTICOS
PALESTRANTES
O nome é pomposo: “Melhor Gestão, Melhor Ensino”.
Autoridades como o secretário e até o governador compareceram ao evento que
marca o início daquele que seria o grande salto na educação paulista. Mas o
curso, de abertura tão solene, nem de longe toca nos problemas enfrentados
pelos docentes em seu dia a dia. Palestrantes bem pagos e bem orientados se
apresentam num hotel para uma sorridente plateia igualmente selecionada. Entre
afagos e rapapés, esses ícones do pensamento pedagógico moderno vão desfilando
suas teorias permeadas por citações de filósofos famosos. Aliás, é bom
ressaltar, como esses teóricos da educação gostam de citar Paulo Freire! Uma
dessas palestrantes, talvez a mais afetada da trupe, já decanta algo como
“pensamento freiriano”. Chique, não?! E ainda se mete a enfiar Nietzsche e
Spinoza numa salada que tem Marx, Luckesi, Velazquez, Duchamp e outros muitos.
Tudo isso, mais as frases compiladas dessas e de outras celebridades. Fica uma
dica a quem deseja fazer uma “boa palestra”: decore frases desses garotos, de
preferência Foucalt, pois este fez a cabeça de várias gerações de
“inteligentinhos”, como diria o iconoclasta do Iluminismo Luís Felipe Pondé.
Irreverente e competente, Pondé deveria ter sido convidado para um debate com
os tais gênios da educação. Se não quisessem Pondé, que ao menos se
prontificassem a debater com os professores. Mas nada de palestrinhas prontas e
embaladas em modelo tipo “exportação” como sói acontecer, pois o público-alvo
nada pode fazer, a não ser assistir passivamente - entre resmungos, bocejos e
cochilos - à empáfia dessas sumidades que ora se apresentam como os redentores
do pensamento contemporâneo. Que tédio!
Caso esse governo, ou qualquer outro que o venha suceder,
quisesse resolver o problema da educação, teria que se inspirar nos melhores
colégios públicos ou privados. Ver-se-ia que, naquelas instituições, o ensino é
levado a sério por todos os atores educacionais. Lá, jamais a escola ficaria
desprovida de seus coordenadores, diretores ou professores para participar de
palestras, reuniões ou qualquer atividade afim. Nessas instituições, o trabalho
docente é sobremaneira valorizado, a remuneração é decente e a cobrança por
resultados é regra para todos: gestores, docentes e discentes.
Supõe-se que intelectuais de universidades devam ter o
que fazer em suas instituições, e o governo nos faria enorme bem poupando-nos
de seus pitacos. Além disso, recursos destinados a esses senhores seriam
economizados e realocados para a sala de aula, a fim de remunerar melhor os
profissionais que estão na lida com os problemas, tentando resolvê-los.
FILIPE
ps.: disponível também em "blogdofilipemoura.com"
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