sexta-feira, 17 de maio de 2013


ALFABETIZAÇÃO DE PROFESSORES

Desculpe-me o solitário leitor por eu fazê-lo entrar nesta pedregosa seara, que deveria ser somente minha. Não me falta assunto – neste momento é o que mais tenho -, mas somente o faço por dever de ofício. Explico:

A SEE – SP convocou grande parte dos professores para um curso, com o objetivo de humanizá-los e torná-los mais sensíveis e democráticos à nobre causa do bem ensinar; ou de alfabetizá-los mesmo. Para tanto, a escola ficara desprovida de seus mestres por alguns dias, e, “dão-lhes palestras!” Na avaliação da primeira etapa desse curso, produzi a “pérola“ que se verá logo abaixo. Um colega, talvez tocado por esses “ventos democratizantes”, decidiu ler o texto para os presentes (uns cinquenta professores naquela sala). Mas a coordenadora do curso, que até então era pura simpatia, aborreceu-se de súbito interrompendo a leitura pela metade. “Nosso tempo é curto. Pare, por favor!” – disse ela, quase às lágrimas, diante da insistência do orador em continuar, a pedido dos colegas.


PERNÓSTICOS PALESTRANTES

            O nome é pomposo: “Melhor Gestão, Melhor Ensino”. Autoridades como o secretário e até o governador compareceram ao evento que marca o início daquele que seria o grande salto na educação paulista. Mas o curso, de abertura tão solene, nem de longe toca nos problemas enfrentados pelos docentes em seu dia a dia. Palestrantes bem pagos e bem orientados se apresentam num hotel para uma sorridente plateia igualmente selecionada. Entre afagos e rapapés, esses ícones do pensamento pedagógico moderno vão desfilando suas teorias permeadas por citações de filósofos famosos. Aliás, é bom ressaltar, como esses teóricos da educação gostam de citar Paulo Freire! Uma dessas palestrantes, talvez a mais afetada da trupe, já decanta algo como “pensamento freiriano”. Chique, não?! E ainda se mete a enfiar Nietzsche e Spinoza numa salada que tem Marx, Luckesi, Velazquez, Duchamp e outros muitos. Tudo isso, mais as frases compiladas dessas e de outras celebridades. Fica uma dica a quem deseja fazer uma “boa palestra”: decore frases desses garotos, de preferência Foucalt, pois este fez a cabeça de várias gerações de “inteligentinhos”, como diria o iconoclasta do Iluminismo Luís Felipe Pondé. Irreverente e competente, Pondé deveria ter sido convidado para um debate com os tais gênios da educação. Se não quisessem Pondé, que ao menos se prontificassem a debater com os professores. Mas nada de palestrinhas prontas e embaladas em modelo tipo “exportação” como sói acontecer, pois o público-alvo nada pode fazer, a não ser assistir passivamente - entre resmungos, bocejos e cochilos - à empáfia dessas sumidades que ora se apresentam como os redentores do pensamento contemporâneo. Que tédio!

            Caso esse governo, ou qualquer outro que o venha suceder, quisesse resolver o problema da educação, teria que se inspirar nos melhores colégios públicos ou privados. Ver-se-ia que, naquelas instituições, o ensino é levado a sério por todos os atores educacionais. Lá, jamais a escola ficaria desprovida de seus coordenadores, diretores ou professores para participar de palestras, reuniões ou qualquer atividade afim. Nessas instituições, o trabalho docente é sobremaneira valorizado, a remuneração é decente e a cobrança por resultados é regra para todos: gestores, docentes e discentes.

            Supõe-se que intelectuais de universidades devam ter o que fazer em suas instituições, e o governo nos faria enorme bem poupando-nos de seus pitacos. Além disso, recursos destinados a esses senhores seriam economizados e realocados para a sala de aula, a fim de remunerar melhor os profissionais que estão na lida com os problemas, tentando resolvê-los.


FILIPE       
ps.: disponível também em "blogdofilipemoura.com"                                                                      

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