Menina, ainda
muito nova, já estava a exibir um pequeno embornal. Como a mãe e as tias,
queria ela andar com sua bolsinha. Não havia nada o que pôr naquela sacolinha
de pano feito “bolsa de moça”. Talvez algum lápis de cor, um pequeno caderno e
uma bonequinha de louça já seriam suficientes como apetrechos iniciais.
O tempo foi
passando e a menininha se fez moça. Agora já tinha sua bolsa de verdade, com
fivelas prateadas, alça de couro e elegante fecho-éclair.
E já tinha também o que pôr nela. Usavam-se, naquele tempo, leite-de-rosas,
ruge, pó-de-arroz e o já tradicional batom. Esta bagagem era necessária e
suficiente para atender às urgências das moçoilas de então.
O tempo passou
mais um pouco. A “bolsa de mocinha casadoira” cresceu e teria que comportar
algo bem menos prosaico do que produtos de maquilagem. Uma caixa de Cibalena,
Melhoral Infantil, fraldas de algodão, mamadeira e outras exigências de uma
criança de colo passaram a compor a bagagem da jovem senhora.
Passados mais
alguns anos, já não havia necessidade de levar consigo apetrechos de nenê. Esta
já estava crescida, e ela própria portava sua bolsinha para bugigangas
semelhantes àquelas descritas lá em cima: batons, cremes, lápis para as
pestanas etc. Mas a “bolsa-mãe” continuava ainda fornida. Tinha lá, além das
chaves da casa, os antigos produtos de beleza, um livro de rezas e uma capanga
bem recheada de notas e moedas. Também um lenço estava sempre ali, além de
alguns comprimidos para pressão ou outros incipientes males da idade.
Outros anos se
passaram e a “bolsa-mãe” tornou-se “bolsa-avó”. Já não exibia o recheio dos
gloriosos tempos. A antiga capanga já estava desfolhada de suas cédulas,
restando-lhe apenas umas moedas. Um batom com a tampa quebrada ainda poderia
ser encontrado dentro de um de seus bolsos com o fecho travado na metade. Além
destes, havia a chave da casa e só. A bolsa estava bem murcha, como murcham os
ânimos e vontades de quem envelhece.
Mais alguns
anos se passaram e a bolsa ficara vazia. Como na primeira experiência da
menininha de três quartos de século atrás, a bolsa conteria o nada, ou quase.
Nela não havia mais a chave, nem o batom... Havia apenas um lenço.
Por fim, já
não há mais bolsa.
FILIPE
Coisa feia!
ResponderExcluirHavia escrito "coro", onde seria "couro".