Suas companheiras de trabalho chamam-no carinhosamente de “Quim”, mas
Joaquim é seu nome. Um nome sólido como o granito e, quando pronunciado, tem a
sonoridade de um bumbo.
Homem simples, como seu próprio nome sugere, este paranaense aportou por
estas bandas há bem anos. Deixou as rubras terras das araucárias, onde passara
infância e mocidade no penoso trabalho da lavoura, para tentar melhor sorte em
solo bandeirante. Mas não tem sido fácil sua existência por aqui, pois, se
farta é a ocupação, escassa é sua remuneração. Mas o Joaquim não se deixa
abalar e todos os dias sobe a colina até o Lar dos Velhos, onde trabalha.
Chegando, cumprimenta um e outro, sendo cumprimentado por esse e aquele. São os
internos da casa, de quem cuida com zelo filial.
Na sua lida diária, muitas vezes interrompe a refeição para socorrer
alguém. “Ih, seu Zé, tem que ser agora, logo na hora do meu almoço?... Não
poderia esperar mais um pouco, seu Zé?” Com o habitual sorriso que lhe é
típico, diz isso sem que haja ofensa ao velhinho, de quem se tornou íntimo no
decorrer dos anos. Com as mãos fortes de ex-lavrador, segura firme a cadeira de
rodas e conduz o suplicante seu Zé até o banheiro para o providencial desaperto.
Somente após liquidar o problema, na mais imprópria das horas, é que retoma sua
refeição - já fria. “Por estes aqui, não tem terror. Já estou acostumado e eles
estão em primeiro lugar. Quando eu posso, almoço. Se eu não puder comer agora,
como depois. E sempre dá para fazer as duas coisas. Veja como estou fortinho!”
– diz jocosamente apontando para sua discreta pança.
Em mais de uma década visitando o Lar dos Velhos, nunca me deparei com o
Joaquim emburrado, mal-humorado, resmungão. Ele está constantemente alegre e, o
mais importante, sempre ocupado. Dá banho num, põe fralda noutro, leva aquele
para o sol, tira aqueloutro do sol..., e assim, aquele incansável guardião vai
cumprindo sublimemente sua função da qual faz um sagrado ministério. Dá gosto
vê-lo em ação. Na enfermaria, no refeitório ou onde quer que vá, Joaquim
arrasta consigo olhares sofridos, mas repletos de admiração, carinho e de um
restinho de esperança.
Certa feita, estando Joaquim em férias, um velhinho baixou hospital
naquela que seria sua última internação. Na agonizante despedida, o moribundo
clamara pela presença do amigo. Por alguma razão, este não fora procurado e a
despedida do velhinho se fez vazia, enchendo de tristeza o coração do preterido
Joaquim.
Entoam-se loas aos figurões da sociedade. Mormente são eles, os
medalhões – na melhor definição machadiana – que colhem os bons frutos numa
seara que jamais cultivaram. Nessa galeria de colunáveis, não terão assento os
abnegados “Joaquins”. Contudo, mais importante do que ser colunável, é ser
coluna. E o Joaquim, mais do que coluna, é um esteio para todos os pequeninos
do Lar dos Velhos de Amparo.
Joaquim, você é um gigante!
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