Recentemente a Folha de São Paulo
trouxe um artigo intitulado “Reprovados em Matemática”. Apoiado numa pesquisa com
público acima de 25 anos, feita em várias cidades do país e realizada por um
importante instituto, o texto, assinado pelo professor gaúcho Flávio Comim,
despeja uma avalanche de números desconcertantes. Segundo o autor, um terço dos entrevistados
não sabe multiplicar, 75% não compreendem frações, mais de 60% não sabem lidar
com porcentagem e mais da metade não consegue fazer um bolo. Isso mesmo, 59%
dos entrevistados não sabem trabalhar com uma receita de bolo, quando é preciso
reduzir ou aumentar proporcionalmente seus ingredientes. Os números continuam,
mas eu paro por aqui para não agastar o esquivo leitor.
O artigo do
professor Comim desperta os brios de quem lida com ensino, particularmente dos
professores de Matemática. Mas o problema é muito mais complexo do que se supõe.
As políticas educacionais – notadamente do estado de São Paulo com a implementação
da “progressão continuada” – que já eram desanimadoras, tendem a piorar. O Conselho
Estadual de Educação (CEE-SP) acaba de determinar que universidades destinem
30% da grade curricular de seus cursos de licenciatura a “aulas práticas”, pois
os “çábios” afirmam que aqueles cursos formam especialistas que não sabem
ensinar.
Adepto dessas “inovações”, o grupo
político à frente do governo paulista há mais de vinte anos não conseguiu
melhorar a qualidade do ensino por estas plagas. Tentou-se de tudo: remanejaram-se
alunos e professores, ainda no final do século passado; implantou-se a famigerada
“aprovação automática”; adotaram-se os discutíveis “Cadernos do Aluno”, em prejuízo
do excelente livro didático distribuído pelo MEC; anunciou-se a flexibilização do
currículo em nível estadual, em contraponto ao currículo nacional de
responsabilidade do MEC; e, neste momento, impõe-se a segunda etapa da
reestruturação, visando separar estudantes por faixa etária, fechando escolas
etc.
Quem está na rede há algum tempo sabe
que nenhuma das mudanças implementadas pelo governo paulista nos últimos vinte
anos resultaram em melhoria do ensino. A reestruturação em curso não será
positiva e a mexida nas licenciaturas, uma tragédia, porque porá “analfas” no
magistério. Quem leciona sabe que o professor deve ser um especialista em sua
área. Sem a competência técnica desse profissional, a escola deixa de cumprir
seu inalienável papel, que é o de promover o pensamento através do ensino. Ou
..., ensinar alguém a fazer bolo.
Com a palavra o professor Renato
Janine Ribeiro, o mais respeitável ministro da Educação que este país já teve: “A
escola existe para desasnar as pessoas”.
FILIPE
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