“Gosto de ler seus textos, mas aqueles que falam de seu povo, de sua
terra e não esses sobre política. Continue contando a história de suas gentes.”
Ouvi, quase envergonhado, o desabafo de minha amiga e leitora, mas sinto muito por
decepcioná-la ainda outra vez.
Não me apetece falar de política
nem de economia, assuntos que não domino e sobre os quais não deveria meter a
colher. Embora ignorante nestes e noutros assuntos, ouso pisar esse pântano de
odor desagradável que me traga e me trai, e me desassossega. Também não costumo
falar de política com amigos, melhor poupá-los de meus clichês. Neste espaço,
porém, costumo dar vazão às minhas inquietações. E com a licença da amiga, vou
prosseguir.
O meu desassossego fica por conta
do recém-sepultado 2015, ano em que economia e política me deixaram aturdido. A
agenda nacional foi de ódio. Nos bares e botecos, nos becos e sobrados, nas
escolas e templos, nas cozinhas e nas alcovas não se falou doutra coisa que não
fosse o ‘fla-flu do mal’ a que se tornou a política nacional.
O país está quebrado, sabemos. Os
preços sobem e, como em tempos de guerra, há filas. Tenho presenciado algumas
dessas infâmias, que são o diagnóstico dessa debacle. No supermercado há filas, principalmente no açougue e para
comprar picanha. Nos caixas, mais fila, agora para pagar a picanha.
Segundo o noticiário de fim de
ano, “jovens gastam 40 mil reais em uma semana na praia”. Na mesma reportagem, um
empresário berra: “Urruh! A crise não vai acabar com nossa feeeeeeeeeeeeeesta!”
Nos bares mais badalados também há crise. Morro de dó daquela gente, de pé, passando
zap-zap, aguardando na fila o sinal verde para o chope com casquinha de siri. Assim
é a vida..., fazer o quê?!
Há outras crises. Uma importante
editora resolveu fechar as portas, demitir funcionários e dispensar autores e
editores. Isso não é novidade. O inusitado fica por conta da forma como
aconteceu. O dono fez com que todos fossem informados pela imprensa. Isso mesmo:
foi pelos jornais que seus comandados souberam do infortúnio. O dito empresário
também decidiu pôr à venda sua residência e “se mandar”. O preço? “Apenas” 30 milhões de reais!
Ah, estava esquecendo do
desemprego, que cresce assustadoramente! Mas, e a qualificação? Segundo
pesquisas, um americano tem produtividade equivalente à de quatro
brasileiros. Não seria o momento de cada
jovem brasuca levar à sério a vida,
dedicando-se mais aos estudos e se profissionalizando? Procure um pedreiro,
carpinteiro, encanador ou eletricista. Não os encontra e, quando os acha, custam
o “olho da cara”. E também não temos técnicos!
No Brasil, conforme último
levantamento do IBGE, há 6,8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos denominados “nem,
nem, nem”. Um contingente equivalente às populações somadas de duas capitais,
Rio de Janeiro e Vitória, que NEM estuda, NEM trabalha, NEM procura emprego.
Como o país vai sair do buraco com essa horda de vagabundos? E a culpa é da
Dilma?
Mas querem o impeachment da
presidenta para pôr o vice no lugar dela. Só que, segundo o Datafolha, 52% dos
brasileiros não sabem quem é o vice-presidente. Que coisa doida, hein?...
FILIPE
É o que tenho dito por aí. Parece que o pessoal não sabe o quer, nem muito menos aonde quer chegar. Agora, você imagina, em ano de eleições para prefeitos e vereadores, o que poderá acontecer! A CNBB tem insistido muito em trabalhar a consciência política dos eleitores, mas parece que o resultado não tem sido proporcional ao esforço despendido. Os ardores partidários e os interesses pessoais continuam prevalecendo. Os oportunistas e aproveitadores estão já armando suas redes para abocanharem os incautos... para sossego de uns e desassossego de outros.
ResponderExcluirMuitíssimo oportuna sua reflexão.