quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

DESASSOSSEGO

Gosto de ler seus textos, mas aqueles que falam de seu povo, de sua terra e não esses sobre política. Continue contando a história de suas gentes.” Ouvi, quase envergonhado, o desabafo de minha amiga e leitora, mas sinto muito por decepcioná-la ainda outra vez.

Não me apetece falar de política nem de economia, assuntos que não domino e sobre os quais não deveria meter a colher. Embora ignorante nestes e noutros assuntos, ouso pisar esse pântano de odor desagradável que me traga e me trai, e me desassossega. Também não costumo falar de política com amigos, melhor poupá-los de meus clichês. Neste espaço, porém, costumo dar vazão às minhas inquietações. E com a licença da amiga, vou prosseguir.

O meu desassossego fica por conta do recém-sepultado 2015, ano em que economia e política me deixaram aturdido. A agenda nacional foi de ódio. Nos bares e botecos, nos becos e sobrados, nas escolas e templos, nas cozinhas e nas alcovas não se falou doutra coisa que não fosse o ‘fla-flu do mal’ a que se tornou a política nacional.

O país está quebrado, sabemos. Os preços sobem e, como em tempos de guerra, há filas. Tenho presenciado algumas dessas infâmias, que são o diagnóstico dessa debacle. No supermercado há filas, principalmente no açougue e para comprar picanha. Nos caixas, mais fila, agora para pagar a picanha.

Segundo o noticiário de fim de ano, “jovens gastam 40 mil reais em uma semana na praia”. Na mesma reportagem, um empresário berra: “Urruh! A crise não vai acabar com nossa feeeeeeeeeeeeeesta!” Nos bares mais badalados também há crise. Morro de dó daquela gente, de pé, passando zap-zap, aguardando na fila o sinal verde para o chope com casquinha de siri. Assim é a vida..., fazer o quê?!

Há outras crises. Uma importante editora resolveu fechar as portas, demitir funcionários e dispensar autores e editores. Isso não é novidade. O inusitado fica por conta da forma como aconteceu. O dono fez com que todos fossem informados pela imprensa. Isso mesmo: foi pelos jornais que seus comandados souberam do infortúnio. O dito empresário também decidiu pôr à venda sua residência e “se mandar”.  O preço? “Apenas” 30 milhões de reais!

Ah, estava esquecendo do desemprego, que cresce assustadoramente! Mas, e a qualificação? Segundo pesquisas, um americano tem produtividade equivalente à de quatro brasileiros.  Não seria o momento de cada jovem brasuca levar à sério a vida, dedicando-se mais aos estudos e se profissionalizando? Procure um pedreiro, carpinteiro, encanador ou eletricista. Não os encontra e, quando os acha, custam o “olho da cara”. E também não temos técnicos!

No Brasil, conforme último levantamento do IBGE, há 6,8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos denominados “nem, nem, nem”. Um contingente equivalente às populações somadas de duas capitais, Rio de Janeiro e Vitória, que NEM estuda, NEM trabalha, NEM procura emprego. Como o país vai sair do buraco com essa horda de vagabundos? E a culpa é da Dilma?

Mas querem o impeachment da presidenta para pôr o vice no lugar dela. Só que, segundo o Datafolha, 52% dos brasileiros não sabem quem é o vice-presidente. Que coisa doida, hein?...


FILIPE

Um comentário:

  1. É o que tenho dito por aí. Parece que o pessoal não sabe o quer, nem muito menos aonde quer chegar. Agora, você imagina, em ano de eleições para prefeitos e vereadores, o que poderá acontecer! A CNBB tem insistido muito em trabalhar a consciência política dos eleitores, mas parece que o resultado não tem sido proporcional ao esforço despendido. Os ardores partidários e os interesses pessoais continuam prevalecendo. Os oportunistas e aproveitadores estão já armando suas redes para abocanharem os incautos... para sossego de uns e desassossego de outros.
    Muitíssimo oportuna sua reflexão.

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