sexta-feira, 15 de abril de 2016

ANGÚSTIA

É madrugada, interrompo a conversa com meu pai pelo ‘feice’, porque amanhã preciso cumprir a obrigação de postar algo neste blog. Tenho um texto antigo, mas não vou publicá-lo agora. Estou angustiado e aquela crônica não reflete meu estado de espírito. Os maus ventos que sopram de Brasília, ou sopram para Brasília, ou que sopram Brasília, também varrem minha inspiração. Sufocado e paralisado, perco a vontade de escrever.  

Politicamente nulo e sem filiação partidária, cumpro sem entusiasmo meu dever cívico a cada dois anos, votando. No passado, votava num candidato que foi defenestrado da política por envolvimento no mensalão. Dias desses, soube que era inocente e que fora absolvido por unanimidade no STF. Atualmente, tenho votado em candidato que faz vigorosa oposição ao governo do PT. Acredito na democracia, e democracia se faz com contrários, com barulho; o silêncio é das tiranias e dos túmulos.

A história ensina que o afunilamento ideológico desemboca em autoritarismo: de esquerda ou de direita. E o Brasil caminha para o chamado ‘pensamento único’, só que de direita.

O desembarque de políticos aliados do barquinho de Dilma é nauseante. Ratos, camundongos e ratazanas escapam tresloucadamente do naufrágio. Enquanto a tripulação se salva, nós, a “arraia-miúda”, submergimos.

Já à beira do precipício, fomos surpreendidos por forças antagônicas como a maçonaria e evangélicos, que se irmanam pelo mesmo fim: o impeachment da presidente.

Triste sina de quem nos últimos anos lutou por um Brasil mais justo e decente. Mais triste, porém, é ouvir os aplausos dos ‘pequenos burgueses” mal remunerados, mas com fumos de barão.

Domingo é o dia mais amargo para quem teme pelo futuro deste país. A Câmara, composta de muitos réus e com aprovação popular de apenas 10%, julgará em “primeira instância” a presidente, que nem sequer foi indiciada pela Justiça.

O mês de abril evoca Tiradentes, mas também seu traidor: Joaquim Silvério dos Reis. Dilma não é Tiradentes, mas tem o seu “Silvério dos Reis” na figura de um vice traíra, ávido por assumir “essa coisa toda”, prometendo um governo de “salvação nacional”. Eles se salvarão, não a nação.

Sobre o governo salvacionista de Michel Temer e Eduardo Cunha, os evangélicos e a maçonaria hão de lhe dar respaldo, porque em breve, todo o reino será deles e eles reinarão sobre todos nós.

Ah, que vontade de procurar uma “Pasargada”..., e nem precisa ser a de Manuel Bandeira. Eu me contentaria com o Uruguai, nossa antiga província. “Vou me embora para a Província Cisplatina!”, porque...

“Cada louco com sua alegria, porque somente os loucos são felizes!”


FILIPE

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Felipe, compartilho do seu asco, mas não da sua frustração. Já venho me abstendo de participar desse engodo chamado eleição faz tempo e nos últimos anos minha convicção sobre a absoluta nulidade do sistema eleitoral só tem aumentado.
    Acompanhando a jogatina que se instalou no parlamento nessas últimas semanas e as justificativas públicas que os próprios dão para esse tipo politicagem, confesso que sinto mais que asco ou frustração, sinto ódio e é um ódio de classe.
    Esse discurso de não ao ódio que artistas e hippies tem propalado é a típica e inocente cantilena dos que querem mudanças sem virar a mesa da História e a História nos ensina que nenhuma mudança real e significativa surgiu do acordo cavalheiro entre o povo oprimido e seus algozes.
    As mulheres pobres do mercado de peixes de Paris invadiram o Palácio de Versalhes com suas peixeiras e retalharam cada metro de seda dos aposentos reais atrás da cabeça de Maria Antonieta. Fossem os intelectuais iluministas querer convencê-las de que o ódio não era uma ferramenta apropriada para o momento...
    Foi o ódio de classe, mais que justificado, que trouxe (à fórceps) a dita democracia à luz do dia.
    Chamar o que temos hoje de democracia e, no mínimo, ingenuidade.
    Há uma passagem de uma música da Legião Urbana que resume muita coisa sobre nossa pseudo-democracia:
    "Abra os olhos e o coração, estejamos alertas, porque o terror continua, só mudou de cheiro e de uniforme..." (Lá Maison Dieu/Renato Russo).
    Por fim, gostaria de ter palavras menos ásperas que pudessem atenuar a angústia do seu coração, mas a angústia faz parte dos nossos dias.
    E eu, quando muito angustiada, sempre me pego pensando nas mulheres do mercado de peixes de Paris.

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  3. Felipe, compartilho do seu asco, mas não da sua frustração. Já venho me abstendo de participar desse engodo chamado eleição faz tempo e nos últimos anos minha convicção sobre a absoluta nulidade do sistema eleitoral só tem aumentado.
    Acompanhando a jogatina que se instalou no parlamento nessas últimas semanas e as justificativas públicas que os próprios dão para esse tipo politicagem, confesso que sinto mais que asco ou frustração, sinto ódio e é um ódio de classe.
    Esse discurso de não ao ódio que artistas e hippies tem propalado é a típica e inocente cantilena dos que querem mudanças sem virar a mesa da História e a História nos ensina que nenhuma mudança real e significativa surgiu do acordo cavalheiro entre o povo oprimido e seus algozes.
    As mulheres pobres do mercado de peixes de Paris invadiram o Palácio de Versalhes com suas peixeiras e retalharam cada metro de seda dos aposentos reais atrás da cabeça de Maria Antonieta. Fossem os intelectuais iluministas querer convencê-las de que o ódio não era uma ferramenta apropriada para o momento...
    Foi o ódio de classe, mais que justificado, que trouxe (à fórceps) a dita democracia à luz do dia.
    Chamar o que temos hoje de democracia e, no mínimo, ingenuidade.
    Há uma passagem de uma música da Legião Urbana que resume muita coisa sobre nossa pseudo-democracia:
    "Abra os olhos e o coração, estejamos alertas, porque o terror continua, só mudou de cheiro e de uniforme..." (Lá Maison Dieu/Renato Russo).
    Por fim, gostaria de ter palavras menos ásperas que pudessem atenuar a angústia do seu coração, mas a angústia faz parte dos nossos dias.
    E eu, quando muito angustiada, sempre me pego pensando nas mulheres do mercado de peixes de Paris.

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