Postado originalmente em 26/08/2011 no
“blogdofilipemoura”
Quase sempre chega
atrasado. Apressado, com o boné numa das mãos, olhando para os lados e com um
meio sorriso naturalmente esculpido, aquele homenzinho toma assento num dos
bancos da capela. Busca sempre o mesmo lugar e caso já tenha alguém ali – não
importa quem, nem quantos –, o problema é de quem chegou antes. Ele vai se
enfiando entre um e outro: empurra o primeiro, o segundo, e o terceiro escapa
furioso. Já sentado, seu boné ainda está na mão e será preciso acomodá-lo ao
lado. Portanto, alguém mais terá que se espirrar dali.
Ninguém se move. Enquanto
isso, o sacerdote continua a celebração, a assembleia entoa cantos e faz as
preces. Mas o intrépido senhor não desiste. Está decidido que seu boné terá que
ficar ‘sentado’ ao seu lado e dará um jeito nisso. Impaciente, gesticula-se
batendo levemente os pés no genuflexório. Não sendo isso suficiente, começa a fazer
uns ruídos. A ausência de dentes lhe possibilita produzir algo muito semelhante
àqueles sons que emitimos – não pela boca, é claro –, mas que fazemos
somente na ‘solidão do trono’. E percebendo a eficácia deste método, anima-se.
Capricha nos vocais e, pouco a pouco, começa a debandada. Primeiramente
uma ruborizada mocinha; depois, aquela sobranceira senhora; agora, um esguio
senhor com fumos de barão também se rende.
Finalmente, o
homenzinho vê-se livre daquela ‘gente incômoda’. Sozinho, estica bem os braços
espalmando as mãos sobre o ‘império’, agora sob seu domínio, a que se tornara o
banco. Contempla orgulhoso aquela vastidão de madeira e então decide
participar, triunfante, da missa que já termina.
P.S.: “Tuto”, este era seu nome, faleceu dias atrás, aos 79. Que Deus o acolha
e o acomode confortavelmente num dos ‘bancos’ do Reino!
FILIPE
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