quinta-feira, 24 de novembro de 2016

ALTAR DAS VAIDADES

Enviado ao Jornal "A Tribuna de Amparo" - edição de hoje.

Reclama-se muito que o jovem de hoje não quer saber de religião, que as igrejas estão cada vez mais vazias, que apenas os velhos as frequentam etc., etc., etc. Mas uma juventude esclarecida terá dificuldade para abraçar uma doutrina cuja embalagem traz um rótulo no mínimo suspeito. Algo de errado existe e simplório seria culpar a modernidade por isso. 

Particularmente não sendo moderno, mas adepto dos velhos costumes, quase toda inovação me enfada, principalmente tratando-se de rituais sagrados – como por enfadonho tenho os programas religiosos transmitidos pela TV. Aqui, não me refiro a um credo em especial, pois, na TV, quase toda aquela programação me parece perversa.

Nas manhãs, tardes e principalmente nas madrugadas, falsos pastores tentam “laçar ovelhas”, utilizando os mais variados ardis. Aproveitam-se do desespero de pessoas doentes, desempregadas e desgraçadamente infelizes, oferecendo-lhes, a preços extorsivos o que de graça já seria afrontoso: ‘lenços ungidos’, ‘cruz da felicidade’, ‘água benta’, ‘tijolinhos da prosperidade’ e outros tantos amuletos.  Como o leitor pode observar, não se trata apenas de determinada igreja ou seita, mas de uma miríade delas. São padres, pastores e assemelhados com um único objetivo: surrupiar a última moeda do desafortunado telespectador.

Deixando de lado a babel televisiva e voltando os olhos para os nossos templos, onde alguns pastores têm comportamento de pop star, abro um parêntese para falar de minha igreja: a igreja católica. 

Ultimamente, tem sido uma verdadeira penitência assistir a determinadas celebrações. Alguns sacerdotes parecem querer transformar o Altar do Senhor num ‘palco’, onde demonstram suas habilidades de orador ou de cantor. Alguns deles – não todos, felizmente – deitam falação, impostando a voz para dar corpo à mensagem; outros, porém, põem-se a cantar durante todo o evento. Com isso, destorcem o momento celebrativo, atraindo para si as atenções em detrimento da Palavra. Além de fé é preciso ter muita paciência, pois as coisas pioram quando o orador gosta do que fala: a cada frase, uma pausa para colher a admiração do espectador. O ‘discurso’ não termina nunca e, para os que estão em pé, o jeito é mudar de posição, descansando uma perna enquanto a outra aguenta firme. E nesse particular sofrimento, o tempo passa devagar, o corpo dói, a mente vagueia. É de amargar!

Não quero ser herético. Acredito na minha igreja e no trabalho de pastores: católicos ou não. Muitos desses abnegados missionários se embrenham nas periferias do mundo, levando alento e a Palavra de Deus aos desvalidos.  Mas não me parece razoável que a vaidade de uns poucos subjugue os fiéis, transformando o Altar do Senhor num palco.

P.S.: Este texto foi encaminhado à Cúria Diocesana, bem como a algumas paróquias. 


FILIPE

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