sexta-feira, 11 de novembro de 2016

NÃO FIQUE NERVOSO

Às vezes me pego pensando: que diferença faria para mim, para você ou para o seu Zé da feira, se vivêssemos sob a monarquia, como viveram nossos antepassados até o final do século dezenove?... A mim, pouco importa a república, o presidencialismo, o parlamentarismo etc. Sei que o mundo será trumpado a partir de 2017 e que aquele cafajeste fascista vai se refestelar, esbofeteando ameríndios, latinos, africanos e toda a casta de pobres que ousa existir neste planeta. De minha parte, já recebo uma dose diária de safanões vindos de Brasília e do Palácio dos Bandeirantes, onde mora meu “potrão” (ops! queria dizer patrão...)

Desde a Proclamação da República – a quartelada que depôs o Pedrão –, o Brasil tornou-se uma corte de bacharéis repleta de nababos vivendo às custas do povo. Leis são feitas para criar ou preservar privilégios. As normas, em teoria, seriam para todos, mas são aplicadas seletivamente, garantindo direitos aos “senhores” e impondo deveres aos “servos”. E quem mora no ‘andar de cima’ jamais se preocupará com o bem-estar de quem se esconde aqui no porão.

Um caso. Recentemente, noticiou-se que um juiz, quando presidente do Tribunal de Justiça de SP, estatelou uma motociclista com sua Mercedes. Em seguida, deixou a moça desmaiada junto a um segurança e seguiu viagem para Brasília com o governador. Tinha algo mais importante do que o comparecimento a uma fétida Delegacia de Polícia – o que os mortais estaríamos obrigados a fazer coercitivamente. Naquele dia, Joaquim Barbosa tomaria posse como presidente do STF e o desembargador embargou-se de cumprir normas, embarcando-se para a Capital Federal. Coisas da nobreza!

O cidadão seu Zé, que tem uma barraca na feira, está preocupado apenas em vender suas bananas, mandiocas e verduras que ele mesmo cultiva. Porque se não vender logo, o prejuízo é certo. Ele se preocupa também com os abacates, que algumas madames costumam apertar para ver se estão ‘duros ou maduros’. Mas não está preocupado com a PEC 241, que tanta confusão tem causado, muito embora poucas pessoas saibam o que vem a ser uma “PEC”. Mas ninguém precisa entender de PEC, como não entendo de urânio, polônio ou plutônio e sei que todos eles são radioativamente letais – como letal é a PEC do “temerário”.

Não tenho feira, mas gostaria de ter uma barraca para vender alguma coisa, pouca, nem que seja limão, porque está difícil dar aulas. Mas eu não conseguiria trabalhar com tanta fartura, nem atender mais de um cliente por vez. O seu Zé, sim, é esperto e sabido. Enquanto atende seus muitos clientes, cada um mais chato do que o outro, põe um olho nas moedas e o outro nos desvãos da bancada a fim de evitar que lhe afanem limões, cenouras e pimentões. Eu também não conseguiria fazer as contas de cabeça que ele faz com tanta destreza: “Bom, aqui são três reais e vinte e cinco, mas faço três reais pra você; mais cinco reais e sessenta e cinco, mas fica por cinco reais e cinquenta; mais essa alface, que vai de presente..., não fica nervoso, tá sobrando! Agora, meia dúzia de ovos, dois reais e trinta; com dezoito e cinquenta..., vinte reais e oitenta. Vinte reais.” Não seu Zé, vinte e um reais! O senhor já fez descontos...” “Não fique nervoso, não fique nervoso!“

É, está difícil manter a calma. Ainda hoje, uma daquelas “madames” foi abordada levando, sem querer e sem pagar, é claro, uma sacola de batatas. Tá feia a coisa, seu Zé, mas não fique nervoso!


FILIPE 

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