Se bem que pedi a Deus, como costumo
fazer todos os dias antes de cada jornada: “Senhor, dai-me paciência e
competência para realizar meu trabalho, e nada mais!” Mas o Altíssimo, com
outras urgências, teria me abandonado. “Tenho agenda cheia. Preciso ‘destrancar’
o Brasil infestado de ‘zumbis’, enquadrar Trump, libertar a Síria, alimentar
refugiados e tantas outras emergências... e esse aí só fica me enchendo o saco
com suas pequenezas. Dá sossego, cara!”, teria dito o Criador com o cenho
franzido, dando largas passadas e cofiando a barba. Mas não, o Barbudinho não
me abandonou.
De volta, após um mês de recesso,
período que pode ser visto como férias – afinal, foram trinta dias de folga e
eu não poderia lastimar, mas... Nesta volta, já no primeiro encontro com meus
alunos, houve um grande desencontro: fui impiedosamente xingado e só não
reproduzo a “bendita” frase para não ferir pias e imaculadas retinas que aqui pousam.
O “crime” aconteceu nos minutos finais da última aula, já nos estertores da
jornada. Embora cansado, eu estava bastante confortado com as pequenas
realizações do dia. Mas o fato me deixou no chão, vencido e batido. Naquele
momento, senti necessidade de me retirar do “front”, pois o triste episódio me
deixou aterrado.
Usando-se de motes bíblicos, o
trabalho do professor costuma ser comparado ao de um semeador ou de um pastor. ‘Semeia-se
sempre, mas há de germinar a boa semente se se cai em bom solo’. Mas um colega,
que em suas aulas gosta de ler a Bíblia em voz alta para que seus alunos
respeitem ao menos a Palavra de Deus, ilustra muito bem o trabalho docente. Ele
diz, com seu humor singular: “Dar aula é ensinar: o professor tem o conhecimento
e quer passar esse conhecimento para o aluno. Mas se o aluno não quiser
aprender, não adianta. Pode espernear, que não vai acontecer nada. É como um pastor
cuidando de um rebanho de cabritos. Ele leva os cabritos ao poço para que bebam
água. Mas se eles não quiserem beber, não tem como obrigá-los a isso. Pior: se
muitos estão com sede, mas um cabritinho ‘tranqueira’ resolver atrapalhar, o vagabundinho vai lá, não bebe e ainda
suja a água, que é para ninguém beber mesmo. E toda a cabritada fica com sede,
mas o pastor vai fazer o quê?...”
O magistério é penoso e ninguém
me falou que seria fácil. Tive bons mestres, busquei inspiração neles e abracei
esta carreira, que já dura um quarto de século. É uma estrada dura, pedregosa,
mas por ela ainda é possível fazer a juventude enxergar algum horizonte. Apesar
dos tropicões, é para frente que se vai.
Neste momento, graças ao Bom Pai,
já estou refeito. Mas não demovi a ideia de registrar queixa-crime numa unidade
policial, o que certamente farei sem pressa e sem prazer. Penso que ninguém é obrigado a gostar de
alguém, mas civilidade é algo que não se pede. Exige-se.
FILIPE
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